quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Mulher Diaba - roteiro de Ataíde Braz

Mulher Diaba no rastro de Lampião
Autor: Ataíde Braz
Desenhos: Flávio Colin

Página um.
Quadro um.
Cena:
Na caatinga. Um coiteiro puxando uma mula carregada ao lado de um cangaceiro. O coiteiro olha para o horizonte onde nota um vulto que se aproxima. Urubus no céu. O coiteiro é um jovem bonito. O cangaceiro é homem feito e de feições marcadas pelo sofrimento e maldade. O cangaceiro usa cabelos compridos.

Texto:
Nota (antes de qualquer texto):
Esta história é uma ficção, não retrata com fidelidade a vida ou ações de Virgulino Ferreira, Lampião, e seus cabras.

Legenda:
Prólogo:
“Muitos perseguiram Lampião, mas poucos sabem sobre a mulher-diaba, que viveu pelas caatingas, farejando o rastro do temível Capitão!”

Coiteiro: Padim, quem vem lá? Cumpanheiro ou macaco?

Quadro dois.
Cena:
O cangaceiro coloca a mão sobre os olhos para se proteger do sol e enxergar melhor. Ar sombrio.

Texto:
Cangaceiro: Num sei não... Eita! Como é bonito o emborná que ele carrega! Até brilha!

Quadro três.
Cena:
A mulher diaba, com todos os apetrechos de cangaceiro, destacando-se o seu embornal e uma bonita espingarda. Vem se aproximando.

Texto:
Legenda:
“No embornal, o seu segredo, quando no desespero, o peito ardendo de ódio, chamou pelo Vadio: - se é valente como diz, lhe dou o êxtase da carne, em troca quero tudo que desejo!”

Quadro quatro.
Cena:
Ela se aproximou do cangaceiro, este com a mão no punhal e a outra segurando a espingarda. Não se olham diretamente. A mulher olha para o jovem coiteiro que sorri.

Texto:
Mulher Diaba: A mula está carregada. A viagem vai ser longa?

Cangaceiro: Istou indo a casa de tua mãe, prá modê fazê filhos machos, Cabras valentes que faz falta na sua famia!

Quadro cinco:
Cena:
A mulher acende um pito (cigarro de palha). Sorri. Agora se nota que é mulher.

Texto:
Legenda: “O demo atendeu o apelo, chegou e viu a bela morena, deitada na caatinga, nua em pêlo, atiçando o Coisa ruim para gostosa empreitada”.

Quadro seis:
Cena:
A mulher fala, o cangaceiro (Cafuné) cutuca o coiteiro sorrindo. Ela sombria.

Texto:
Mulher diaba: Moço, cabra valente num falta no sertão. O que precisa é de um bode prá colocar calma no cercado.

Página dois.
Quadro um:
Cena:
O cangaceiro vai rodando em volta da mulher cangaceira, que não se amedronta. Pita o seu cigarro, sem soltar a espingarda ou rifle.

Texto:
Cangaceiro: A quenga é cabra com cabelos nas ventas! Onde foi o teu bode, limpar a bunda para melhor me servir?

Coiteiro: Há! Há! Há!

Quadro dois.
Cena:
O cangaceiro levanta a saia da mulher com a ponta da espingarda, mostrando a calcinha dela.

Texto:
Legenda:
“O Tinhoso foi logo pensando: - hoje é sexta-feira santa, vou me regalar na tentação. Meto minha colher nesta carne opulenta que nem parece do sertão!
Engabelo a quenga, como do bom e do melhor, sem nenhuma chateação!”

Quadro três.
Cena:
O cangaceiro foi para frente. Fala com ar de tesão.
Texto:
Cangaceiro: Acabou-se tuas andanças sozinha! Vai me acompanhar pela caatinga e me servir! E se ouvir um resmungo sangro de imediato!

Quadro quatro:
Cena:
A cangaceira sorri, com ar sombrio. Espingarda na mão e o cangaceiro também com a sua.

Texto:
Cangaceiro: Se afasta, José.

Mulher diaba: Homi, a proposta é uma tentação. Eu ia aceitar para modê chegá no Capitão! Mas vosmicê já ta si alembrando de mim!

Quadro cinco:
Cena:
O cangaceiro fala. Andando em circulo, pronto para a luta, meio abaixado com o rifle na mão, em alerta. A cangaceira também.

Texto:
Cangaceiro: Sim, tu fugiu nua de um folguedo em Pernambuco! Tá diferente, não tem jeito de dama!

Mulher diaba: Salvou-se uma volanti quando farejei seu rastro! Sua gordura é muito especiá para mim!

Quadro seis.
Cena:
O cangaceiro pergunta, sempre alerta.

Texto:
Cangaceiro: Gordura?

Mulher diaba: Sim, gordura de animá ruim, que mata e num come. Serve para o meu candieiro acender!

Quadro sete.
Cena:
Chegam mais dois cangaceiros. A mulher abre o embornal.

Texto:
Um deles fala: Adisculpe a demora, Cafuné, mas tem volante por perto.

O outro: Precisa de Ajuda?

O cangaceiro (Cafuné): Se tem volante rondando, sim! Prá modê acabá rápido com a valentia da diaba!

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