Algo fundamental, uma das
primeiras lições para um futuro roteirista de quadrinhos, é que o texto nunca
deve ser redundante. Em outras palavras, nunca se deve dizer com as legendas ou
com os diálogos aquilo que o leitor está vendo.
Mas algumas pessoas
confundem texto redundante com texto narrativo. Embora possam parecer
semelhantes, não são. O texto narrativo, embora não explore toda a potencialidade
dos quadrinhos, não chega a ser um erro. Já o texto redundante se limita a
dizer aquilo que o leitor está vendo é erro feio.
Imagine uma cena: um casal
andando pelo deserto em pleno dia, o sol acima deles e nada por perto além da
areia escaldante.
Um texto narrativo possível
para a cena seria: “O casal andou por horas a fio sob o céu escaldante sem
encontrar um único indício de vida ou civilização. Se não encontrassem logo
água, iriam morrer no deserto”. Observe que há várias informações incluídas no
texto que não aparecem na imagem (o casal está andando por horas, não
encontraram sinal de vida em toda a caminhada, logo vão morrer de sede).
Um texto redundante sobre a
mesma cena seria: “O casal anda no deserto sob o sol escaldante”. Neste caso, o
texto se limita a dizer aquilo que o leitor está vendo, sem acrescentar nada à
informação visual.
Percebam como o texto
redundante se limita a descrever a imagem que está sendo vista pelo leitor. Ou
seja, é totalmente desnecessário.
Um exemplo de texto
redundante pode ser encontrado na página da série Os Eternos, de Jack Kirby,
publicada em Superaventuras Marvel 25.
Observe os dois primeiros
quadrinhos. Eles mostram a nave dos desviantes entrando por uma cabeça de pedra
e singrando em direção a uma abertura luminosa. O que o texto diz? O que o
leitor está vendo: “Logo uma enorme cabeça de pedra surge à sua frente. Penetrando
pela boca do dragão, a nave avança rumo a uma abertura luminosa”.
Um outro exemplo de texto
redundante pode ser encontrado na versão quadrinística da história A torre do
elefante, com textos de Roy Thomas e desenhos de John Buscema. Conan e outro
ladrão estão no pátio da torre quando encontra com cinco leões. O diálogo diz:
“Leões! Cinco deles!”.
Curiosamente, na mesma
página há um exemplo de ótimo uso do texto quadrinístico, inclusive como
elemento de suspense. O ladrão nemédio empurrou Conan para trás, fazendo com
que ele parasse. O texto diz: “Seu olhar está fixo em arbustos poucas jardas à
frente... arbustos que continuam se movendo, embora o vento tenha morrido”. O
texto narra a aproximação de algo que o leitor não é capaz de identificar
visualmente (só depois, no quadro de impacto ele descobrirá que são leões).
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