segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Confira o processo de produção da primeira história do Cabano

 Cabano é um personagem  surgido no meu livro Cabanagem. Este ano, o herói ganhou sua versão em quadrinhos desenhado pelo grande Juliano Kaapora e publicado na revista Mestres do Terror (pedidos podem ser feitos pelo e-mail revistacalafrio@gmail.com). Na primeira história ele enfrenta a Cobra Grande. Em histórias futuras ele encontrará com diversos outros seres da floresta, entre eles o Curupira, a Matinta, o Mapinguari, entre outros. 

Confira abaixo como foi o processo de produção de uma página da HQ. 


O roteiro 

O roteiro descreve as cenas para o desenhista e apresenta os diálogos e textos. É o primeiro passo da produção de uma história em quadrinhos. Aqui pegamos o roteiro da página 4.  


Página 4

Q1 – O cabano fugindo, mas vemos ao fundo duas luzes, como se fossem dois faróis, mas são os olhos da cobra grande.

Texto: Seus pés tocam rápido a terra escavada há milênios enquanto o pesadelo vivo o persegue implacavelmente.

Texto: Embora não o veja, o cabano sabe que ele está ali, aproximando-se rapidamente.

Q2 – O cabano atirando. Minha ideia é mostrar ele de frente, como se o leitor estivesse na frente dele.

Texto: Ele se vira e atira.

Q3 – O cabano correndo pelos túneis.

Texto: Ele sabe que o tiro não irá matar a criatura. Talvez ela nem mesmo possa ser morta. Talvez seja mais velha que o tempo. Mas talvez lhe dê alguns segundos preciosos.

Q4 – O cabano fugindo e, na frente dele uma luz, como se fosse uma saída do túnel para o ar livre.

Texto: Luz. Há uma saída. Ele apressa o passo, o ar queimando em seus pulmões, rezando para que ainda haja tempo.  Ele pode ouvir o arrastar demoníaco da serpente cada vez mais próximo.


O rafe 

O rafe é um esboço do desenho. Serve como guia para a produção da história. Nesse caso, o rafe foi enviado para mim e eu e o desenhista discutimos mudanças. 


A página finalizada 

Aqui temos a página já com arte-final. Observe que o rafe foi seguido, exceto no terceiro quadro. A ideia de fazer a cobra se enrolando no quadro e vermos o Cabano através dela deu mais dinamismo e grandiosidade para a cena. 


domingo, 30 de maio de 2021

Omac – o exército de um homem só



Em 1974, Jack Kirby estava na DC Comics e tinha assinado um contrato que o obrigava a fazer 15 páginas de quadrinhos, escritas, desenhadas e editadas por semana. Um número absolutamente bizarro se considerarmos que a maioria dos desenhistas de quadrinhos faz 22 páginas por mês.

Mas outras revistas que ele estava fazendo, como Etrigan, o demônio, tinham sido descontinuadas em decorrência das baixas vendas. O único personagem que vendia relativamente bem era Kamandi, que se passava num futuro distópico. Assim, os executivos da DC pediram que Kirby pensasse num herói futurista para completar a cota de 15 páginas semanais.

O resultado foi, provavelmente, o melhor trabalho de Kirby para a DC e, provavelmente, um dos melhores quadrinhos já feitos pelo rei.

O quadrinho chamava-se Omac e se passava num futuro distópico. Omac é um operativo de paz que combate ditadores e criminosos.

As situações imaginadas por Kirby mostram o quanto ele era visionário e absolutamente criativo.

O mundo de Omac é um local em que ricos podem conseguir tudo, de alugar uma cidade para dar uma festa (e durante a festa tudo que está dentro da cidade pode ser usado por eles) a comprar corpos jovens para transferir suas consciências.



A primeira história é incrivelmente visionária. Kirby imaginou uma empresa que fabrica “amigas”, bonecas hiper-realistas para consolar pessoas sozinhas (em outras palavras: bonecas sexuais). A situação gira em torno de pessoas dessa empresa que colocam bombas nessas bonecas afim de cometer assassinatos. Hoje em dia bonecas hiper-realistas são uma realidade e podem ser compradas em sites por valores que variam de 2 a 5 mil reais! As mais avançadas já contam até mesmo com inteligência artificial. Se considerarmos que Kirby fez essa história em meados da década de 70, é incrível o quanto ele conseguia antecipar o futuro.  

Kirby imagina a importância que a água teria no futuro e inventa um vilão que manipula átomos para roubar rios e lagos inteiros.

E, quem diria, Kirby, que lutou na segunda Guerra Mundial, é implacável com figuras de autoridades, em especial as militares. Um dos personagens, assistente de um vilão, é o Major Capacho.



Omac é, provavelmente, o melhor exemplo da mente genial e visionária de Jack Kirby, o homem, que, nas palavras de Alan Moore, era capaz de criar um universo antes do café da manhã.

Pena que a capacidade de Kirby com a escrita não acompanhasse toda essa genialidade. Os diálogos são tão impessoais e sem sabor que muitas vezes um personagem completa a fala do outro. Mas a genialidade das histórias aqui é tão grande que esse defeito passa quase batido.

É surpreendente que esse material estivesse inédito no Brasil até este ano de 2021, quando a Panini publicou as histórias num volume de Lendas do Universo DC.

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