segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O roteiro em loop

O roteiro em loop é uma das estruturas narrativas mais interessantes.
Difícil descobrir quando foi inventado, mas há registro de tramas que vão e voltam desde a década de 1930, com uma história do Sombra, publicada em pulp fiction, em que um cientista à beira da morte revive continuamente o dia 31 de dezembro a fim se vingar do homem que o prejudicou. No filme britânico Dead of Night (1945), um arquiteto acorda com uma ligação. É um convite para verificar algumas reformas em uma casa, chegando lá encontra vários convidados e revela que viu a todos em um sonho recorrente ao mesmo tempo em que começa a antecipar acontecimentos. A trama se desenrola até o final dramático e novamente começa com o arquiteto acordando e recebendo a ligação.
Mas o recurso ficou realmente famoso com o filme Feitiço do tempo, de 1993 (roteiro de Danny Rubin e Harold Ramis, direção de Harold Ramis), com Bill Murray como protagonista que fica preso no dia da marmota, revivendo eternamente as mesmas 24 horas.
Mas muitos outros aproveitaram essa estrutura, que já apareceu em Simpsons, Arquivo X e no filme alemão Corra Lola, corra!
A mais nova incursão nessa estrutura narrativa é o filme A morte te dá Parabéns, dirigido por Christopher Landon (de atividade paranormal) com roteiro do escritor de quadrinhos Scott Lobdell. 
Na história Tree (Jessica Rothe) é uma patricinha convencida e arrogante, que trata mal e desdenha de todos que conhece e acaba sendo morta. Ela acorda no mesmo dia e acaba sendo morta novamente e isso várias vezes. 
O grande desafio do roteiro em looping é manter o interesse do expectador, que corre o risco de se entediar com a redundância das repetições de trama. O segredo está em repetir a trama básica, mas ir introduzindo modificações que tornam a história interessante. E, ao mesmo tempo, criar marcações que mostrem desde o início que o dia está se repetindo. Ou seja: Tree irá acordar no quarto de um menino desconhecido, pede um remédio para dor de cabeça, sai, vê um casal ser molhado por regador automático, um carro disparar o alarme e um aluno desmaiar. E, ao final do dia, é morta. O que acontece no recheio desses dois extremos é o ambiente em que o roteirista trabalha as mudanças e aprofunda a personagem. 
Embora tenha uma pegada de filme teen (o que talvez desagrade alguns), A morte te dá parabéns
 consegue manejar bem esses elementos entregando, inclusive uma virada final que fecha as pontas soltas e faz o expectador pensar: “nossa, era óbvio!” 

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Escreva um roteiro agradável de se ler


A maioria dos roteiristas se esquece completamente que o roteiro, antes de se tornar uma história em quadrinhos, será lido por alguém. E esse alguém geralmente é um desenhista. E, posso garantir: a maioria dos desenhistas não são leitores vorazes.
Assim, se o desenhista não ler, ou ler com pouca atenção, não irá desenhar, ou irá cometer erros, e alguns podem tornar sua história quase incompreensível.
Uma boa tática é “conversar” com o desenhista no roteiro, se você já souber quem é ele. Em uma das histórias que escreveu para Supreme, Alan Moore escreveu para o desenhista paraense Joe Bennett: “Joe, sei que você gosta de prédios expressionistas. Você vai adorar essa história!”.
Eu gosto de fazer pequenas piadinhas em meus roteiros. Pequenas anedotas que prendem a atenção do desenhista e ajudam a explicar o que quero (não sei você consegue entender exatamente, mas infelizmente não posso desenhar isso para você. Afinal, você é o desenhista! rs).
Outra coisa que aprendi é que nem sempre termos técnicos são uma boa solução, especialmente se forem termos técnicos do cinema. Logo que comecei a escrever, usei uma vez a expressão “câmera subjetiva”. Eu queria que a sequência de imagens daquela página fosse vista sob o ponto de vista de determinado personagem e é isso o que significa câmera subjetiva. Mas o desenhista não entendeu e desenhou como quis. Mas para me satisfazer, desenhou uma câmera de vídeo no fundo do quadro. Detalhe: uma câmera que não tinha a menor razão para estar ali!
Ler roteiros de outros escritores pode ser uma boa solução para tornar os seus agradáveis. Você verá que o que se o roteiro é gostoso de ler, provavelmente o resultado final também será. Uma vez tive acesso a um roteiro de um capítulo de novela O cravo e a rosa, de Walcyr Carrasco. Esse é um noveleiro conhecido por novelas divertidas, leves, com um toque de humor sutil e saudosista. O roteiro era exatamente assim. Até mesmo as partes técnicas tinham essas características. 

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