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uma breve apresentação
Sou
roteirista, escritor, editor, jornalista, tradutor e revisor. Sou formado em
Comunicação Social e Jornalismo pela UFSC, mas como roteirista e escritor sou
totalmente autodidata. Atualmente edito e escrevo para a revista online de
quadrinhos e contos ilustrados de terror e fantasia Contos do Absurdo para a
Publigibi, estou colaborando com diversas coletâneas e tenho alguns projetos de
criação própria em quadrinhos, cinema e animação que pretendo viabilizar a
partir do próximo ano. Também ano que vem devo começar a dar aulas de roteiro
aqui na Publigibi.
Que
quadrinhos você lia quando era criança? Quas foram suas principais infuências?
Eu fui um
leitor de "fases". Até uma certa idade, lia muito Disney e Turma da
Mõnica, depois passei a ler muitos super-heróis, uma época lia muito Batman,
depois Homem-Aranha, depois Hulk... Na adolescência veio o tal
"desbunde", descobri Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, e daí
vieram as leituras mais adultas.
Como
roteirista, me influencio muito pelos britânicos, não só Alan Moore, Neil
Gaiman e Grant Morrison, mas também Garth Ennis, Mark Millar, Peter Milligan...
Mas como escrevo diferentes tipos de quadrinhos, me inspiro em influências
diversas. Para escrever HQ infantil, por exemplo, penso em Carl Barks, Goscinny
e Uderzo, Charles Schulz.
Seu
trabalho mais longevo foi o Sesinho. Quais as dificuldades de se fazer um
quadrinho institucional-educativo? Que dificuldades enfrentou? Qual a melhor
história que escreveu para o personagem?
Sinto que a
maior dificuldade é casar a qualidade narrativa e de entretenimento com os
aspectos educativos e institucionais. Trata-se de um produto que você está
criando para um cliente, então o cliente sempre tem a palavra final, diferente
de uma obra autoral em que eu, como criador, tomo as decisões e tenho mais
liberdade de discordar de um editor e até enviar a história para outro, por
exemplo. Geralmente os projetos institucionais já são criados para um cliente
específico. Outra dificuldade é incluir o conteúdo didático na trama da forma
mais natural possível e manter um certo ritmo.
Me recuso a chamar de história em quadrinhos educativa algo que é
simplesmente uma cartilha desenhada, com um personagem explicando algo para
outro do começo ao fim. Sempre me preocupo o máximo possível em ter uma
história, com começo, meio e fim, mesmo que num certo momento tenha a parte
puramente explicativa.
Em relação
ao Sesinho, alguns temas eram mais difíceis de transformar numa HQ divertida e
acessível ao público infantil. Por exemplo, para fazer uma edição sobre
arquivologia fizemos uma história sobre a importância de se pesquisar
corretamente e fugir da mania do "Ctrl+C/Ctrl+V", ou seja, copiar
pronto da internet.
Mesmo
assim, houve várias edições do Sesinho em que me senti muito à vontade para
criar uma HQ infantil autoral, até com experimentação. Uma edição que destaco é
"Sem Palavras", em que o Ruivo, o personagem menos estudioso da
turma, deseja um mundo sem palavras. Ele tem balões de fala, mas não aparece
nada escrito, e não consegue ler os balões dos outros, anota no caderno e não
vê as palavras. Foi uma das edições mais experimentais e diferentes.
Como você
começou a escrever o Sesinho?
Foi muito
louco. Eu era jornalista e tava fazendo freelancer para um jornal de bairro, aí
o editor do jornal me indicou uma vaga de revisor na Exa World de
Florianópolis, e eu nem sabia que eles faziam o Sesinho. Entrei como revisor e
acabei escrevendo roteiros e textos de quase 100 edições.
O Brasil é
um país em que a profissão de roteirista é pouco valorizada. A que você atribui
isso?
São várias
coisas. Uma é que não formamos um verdadeiro mercado de indústria cultural, no
qual o roteiro, a narrativa é a base de tudo. Mesmo os games mais populares
chamam a atenção pela narrativa. Ainda não tratamos o roteirista como um
profissional e sim como o "artista doidão" que precisa arrumar
emprego público pra pagar as contas e fazer a arte nas horas vagas, sendo que o
lazer, a cultura, o entretenimento estão entre as maiores indústrias do mundo
hoje.
Veja os
quadrinhos, é recente a profissionalização e a divisão de tarefas entre o roteirista
e o desenhista. Geralmente o quadrinista era sempre o garoto que gostava muito
de desenhar na escola, e porque não havia essa profissionalização e divisão ele
por necessidade escrevia as próprias histórias. Em alguns casos, isso produziu
autores geniais, em outros não. Mas é dos últimos anos para cá que estamos
realmente juntando os talentos que se completam.
Somos um
país que ainda sobrevaloriza a telenovela diária, um gênero que por natureza
nunca primou muito pela qualidade de texto. Custamos para investir nos
seriados, que são o melhor meio narrativo para televisão. No cinema, insistimos
por muito tempo numa visão herdada do Cinema Novo de que roteiro com começo,
meio e fim, estrutura narrativa era caretice de Hollywood, sendo que isso de fato
vem desde a Grécia Antiga. Nada contra as narrativas mais alternativas, tem
trabalhos geniais e eu mesmo "viajo" muito às vezes. Mas como
roteirista eu na verdade acho um grande desafio trabalhar dentro de uma
estrutura narrativa e ainda assim criar algo diferente e que fuja do
convencional.
Como
ser um bom roteirista? Que dica você daria para novos roteiristas?
Eu vou
parecer maluco falando isso agora que vou dar aula de roteiro, mas não se pode
realmente ensinar alguém a contar uma história. Quero dizer que não existem, em
princípio, regras, não existe o certo e o errado. Tem milhões de maneiras de
contar uma história, aliás é por isso que as contamos e nos surpreendemos com
elas até hoje.
Mas existem
certos princípios que eu, pessoalmente, acho fundamentais: primeiro, buscar
escrever algo que você mesmo gostaria de ler ou ver, porque se já é difícil
fazer os outros gostarem do seu trabalho, imagine se você mesmo não gostar, e
esse é acima de tudo um trabalho de paixão; ler e observar de tudo, pois as
ideias podem vir de qualquer lugar, aliás muitas das melhores ideias vêm da
não-ficção, pois tendem a ser mais originais que algo que já é inspirado num
filme ou em outra HQ; e escrever sempre, sem medo de errar, pois muitos autores
cheios de potencial travam ou desistem pela insegurança e auto-crítica. Ter
auto-crítica e ouvir as críticas construtivas é fundamental, mas o autor
precisa dar a cara pra bater para evoluir na sua arte. E nisso é uma profissão
como qualquer outra, quanto mais prática, melhor.
Quais
os seus roteiristas prediletos?
Já citei os
britânicos, acho impossível deixar de citar o Will Eisner, que foi o maior
experimentador da narrativa de HQ em todos os tempos. Hoje tenho gostado muito
do trabalho do Robert Kirkman. Um roteirista brasileiro cujo trabalho admiro
cada vez mais é o Edgar Franco, um autor que tem uma visão de mundo única,
dentro e fora dos quadrinhos.
Que
quadrinhos você destacaria como seus prediletos de todos os tempos?
Vou citar
alguns que me marcaram pessoalmente. "A Morte de Gwen Stacy" teve um
impacto emocional enorme pra mim quando criança. "Chiclete Com
Banana", como eu falei, foi o "desbunde", a descoberta do humor
anárquico nos quadrinhos. "A Piada Mortal" foi a primeira HQ que li
que me revelou como uma história em quadrinhos podia ser ao mesmo tempo adulta,
ousada e sofisticada. "O Cavaleiro Das Trevas" por ter reinventado
meu personagem favorito de todos os tempos. As graphic novels autorais que Neil
Gaiman fez com Dave McKean, que eu li em inglês, "Casos Violentos",
"Sinal E Ruído", "Mr. Punch" me marcaram pela combinação de
qualidade literária, experimentação e beleza visual em HQs que não eram de
super-herói, terror, fantasia nem sci-fi. Mais uma vez, é impossível deixar de citar
Will Eisner e "The Spirit", uma explosão de criatividade e inovação
como nunca se viu antes nem depois.
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