A década de 1970 na Marvel foi a era dos quadrinhos estranhos, fora da caixinha. A regra parecia ser “não há regra” – e eram muitas as experimentações. Surgiram desde quadrinhos sobre heróis espirituais, como Warlock, até quadrinhos sobre artes marciais (Mestre do Kung-fu). Até personagens clássicos, como o Dr. Estranho, tiveram aventuras que saiam completamente do comum – com o personagem contracenando com uma lagarta fumadora, por exemplo. Tudo isso capitaneado por uma geração de hippies que aproveitou ao máximo a abertura que a indústria de entretenimento estava lhes dando naquele momento.
Mas nenhum quadrinho foi tão revolucionário, tão fora da caixinha quanto Howard, o pato.
O personagem surgiu como coadjuvante em uma aventura do Homem-coisa, escrito por Steve Gerber e desenhado por Val Maverick.
O monstro se envolvia em uma trama de encontros de realidades e – entre os personagens que surgiam estavam um bárbaro e um pato falante. Ao final da história, o pato simplesmente sumiu em meio às realidades, desaparecendo da história.
Seria o fim dele, mas os leitores gostaram do personagem e começaram a escrever para a Marvel pedindo mais histórias com aquele personagem. Roy Thomas, editor-chefe da editora na época, achava que o personagem não se sustentaria num título, mas Gerber garantiu que daria conta do serviço e o personagem ganhou uma segunda chance, primeiro na revista do Homem-coisa, depois com título próprio. O desenho ficou sob a responsabilidade de Frank Brunner (que havia ilustrada a fase mais lisérgica do Dr. Estranho) e depois de Gene Colan.
E eram aventuras absolutamente subversivas. Howard, depois que quicar em várias realidades, vem parar na terra, onde encontra uma linda moça que seria sua parceira e passa a viver suas aventuras enfrentando os tipos mais estranhos, a exemplo do Homem-nabo (vindo de uma espécie de vegetais agressivos que superaram os limites de suas raízes para se tornarem empreendedores galácticos), O Pestana (um artista com sonambolismo) e muitos outros.
Em uma das histórias, a dupla é vítima de uma gangue de valentões e Howard se torna mestre de Quac Fu em apenas três horas de treino!!! Aliás, essa é uma das aventuras mais divertidas, uma belíssima brincadeira homenagem ao personagem Shang Chi, da Marvel desenhada por John Buscema.
Howard não parava. Em um momento ele estava enfrentando um mágico contador espacial, em outro estava na cidade grande se deparando com uma velha gorda e adepta de teorias da conspiração, em outro estava num castelo vitoriano caindo aos pedaços enfrentando um monstro Frankstein feito de biscoito. Em outras palavras: era piração em cima de piração.
O ponto alto desse processo é quando o Partido Noturno resolve lançar Howard como candidato à presidência – e este passa a ser alvo de todo assassino profissional do país.
O personagem fez tanto sucesso que se tornou filme, uma película pouco inspirada que tinha pouco a ver com toda a subversão dos quadrinhos.
Um comentário:
O filme tem péssimas críticas, mas aos olhos infantis da criança que eu era quando assisti, eu achava divertidíssimo! Até hoje nunca tive oportunidade para ler as HQs do personagem, mas tenho muita curiosidade e vontade, tudo graças ao filme! :-D
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