domingo, 5 de agosto de 2018
Da criação ao roteiro, de Doc Comparato
Durante muitos anos não existia praticamente nenhuma bibliografia sobre roteiro no Brasil. Sobre roteiro para quadrinhos, nenhuma.
Então, todo mundo que queria escrever HQs em algum momento se deparando e utilizando na prática do livro Da criação ao roteiro, de Doc Comparato.
Doc Comparato era um dos veteranos da prática do roteiro para cinema no Brasil. Ele escreveu boa parte dos filmes dos Trapalhões (a partir do plot de Renato Aragão) e ministrou as primeiras oficinas de roteiro, das quais saíram inclusive roteiristas de novelas hoje famosos. E seu livro foi um dos primeiros e mais famosos publicados no Brasil sobre o assunto.
Mas roteiro para quadrinhos é uma coisa, roteiro para cinema é outra.
Todos os meus amigos roteiristas relatam pelo menos uma situação em que se deram mal usando o livro do Doc Comparato ao esccrever para quadrinhos.
A minha ocorreu logo no início da carreira. Empolgado com o livro do Doc, resolvi usar um pouco do palavreado técnico que aprendera nele. Assim, em determinado quadro, uma garota invadia o quarto de um homem para espioná-lo. Na descrição da imagem, defini que teríamos uma câmera subjetiva com a personagem principal entrando pela janela de um quarto.
A câmera subjetiva ocorre no cinema quando a imagem mostra o ponto de vista de um personagem.
Mas o desenhista não entendeu o que era aquela tal de câmera subjetiva. Resultado: desenhou o quadro da maneira que achou melhor e, para não fugir completamente do roteiro, colocou uma câmera caída no chão do quarto.
E, de fato, ele não tinha nenhuma obrigação de entender o palavreado técnico de cinema. Afinal, estava fazendo quadrinhos.
Depois disso usei diversas vezes o recurso de mostrar a imagem do ponto de vista de um personagem. Mas fiz isso explicando na descrição o que eu queria, ao invés de usar um termo técnico de outra mídia.
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