Quando for escrever o texto de sua história em quadrinhos,
pense no texto como um todo, e não como elementos isolados. Um dos principais
erros dos iniciantes é isso: não interconectar os textos, especialmente da
legenda. O leitor deve sentir que o roteirista pensou a história como um
quebra-cabeça em que cada parte do texto se encaixa para compor algo maior.
Um exemplo disso é minha história em quadrinhos Refrão de
Bolera, com desenhos de Bené Nascimento e publicada em diversas revistas da
editora Nova Sampa, no início da década de 1990.
A história mostrava uma paulistana que chegara a poucos dias
em Belém envolvida em várias aventuras eróticas. Nessa primeira parte da HQ, a
personagem se desmancha em elogios para Belém e a chama de “cidade de cartão
postal”.
No ponto de virada a história ela é assaltada, tem a mão
cortada, volta ao hotel, descobre que alguém fechou sua conta e levou todas as
suas coisas. Assim, ela se vê sozinha, sem dinheiro ou amigos numa cidade que
não conhece, e uma cidade violenta (eu escrevi essa história depois de ter sido
assaltado).
No final, a protagonista se senta na escadinha da beira-rio
(famosa na época), segura o corte da mão para evitar que ele sangre mais e
pensa:
Eu tinha uma bolsa. Eu tinha um conversível. Eu tinha um
apartamento e algumas gramas de cocaína. Eu tinha dinheiro no banco. Agora só
tenho um corte na mão... e uma cidade de cartão postal.
O leitor, ao lê isso, percebe que todo o texto foi pensado
como um todo, uma vez que a primeira parte do texto se encaixa com a última,
dando um outro sentido para a palavra “cidade de cartão postal”.
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