Flávio inspirou a criação de um personagem, primo do Rolo. |
Flávio Teixeira é um dos mais atuantes roteirista do estúdio
Maurício de Sousa Produções. Entre os
seus trabalhos se destacam várias
adaptações de filmes e o casamento da Mônica na versão jovem. Os fãs se
deliciam com sua verve para o humor, o trocadilho e as referências à cultura
pop com as quais enche suas histórias. Nesta entrevista ele fala um pouco de
sua carreira de seu processo de criação.
O que você lia quando
era criança?
Eu comecei a ler turma da Monica, que acho que todo mundo lê
quando é criança, e algumas coisas estranhas para mim na época, como Fantasma, super-heróis,
mas o que mais me cativou foi a Turma da Monica, o que me ajudou, pois depois,
como ia trabalhar com esses personagens, foi isso que acabou me formando como
roteirista.
Como você começou a
escrever roteiros?
Quando era criança eu adorava a escrever histórias. Fazia
histórias dos meus personagens, os professores me incentivavam e aos sete anos
eu fiz uma historinha e mandei para a Folhinha, que tinha um espaço chamado
futuro artista. Mal sabia eu que ia ser mesmo um futuro artista de quadrinhos. Quando
cresci, fui trabalhar com desenho animado, como desenhista, eu nem sabia que
existia roteirista. Na época do plano Collor eu fui demitido e sugeriram que eu
procurasse o Maurício e lá um amigo disse que eu tinha muita criatividade e
sugeriu que eu fizesse teste para roteirista. Eu comecei a fazer em folha de
caderno. Aliás, o primeiro roteiro que fiz foi o Batmão, que é uma história do
Batman com o Jotalhão em que ele vai assistir a um filme do Batman e pede para
a Monica fazer uma roupa para ele. Foi o primeiro que eu fiz, mas o primeiro
que publicado foi da Dona Morte, que é um personagem que adoro. Eu inclusive
dei uma mudada na personagem. Os roteiristas tinham uma outra maneira de fazer
ela, uma coisa mais durona. E era meio assexuada. Era dona morte, mas não era
bem uma mulher e eu comecei uma Dona Morte mais gente boa, mais feminina. Fui
mudando aos poucos, o Mauricio aceitou e eu achei muito legal. A primeira
história que saiu trata de suicídio, que hoje seria impossível por causa do
politicamente correto. Era um cara tentando se jogar de uma ponte com uma
pedra, e a Dona Morte convencia ele a não fazer isso porque ele não estava na
cota dela .
Qual o personagem que
você mais gosta de escrever?
É a Dona Morte. Se você pegar as minhas histórias, vai ver
que de alguma forma ela sempre aparece. Eu adoro porque ela foge do clichê. A
dona morte só precisa pegar alguém e isso dá asas para a imaginação. Tem uma
das histórias que eu mais gosto que ela vira criancinha, a Mortinha e ninguém
respeita mais ela. Tem aquela que fiz do Papa, que também teve uma repercussão
bem legal. Aliás, aquela história eu fiz na rodoviária.
Dona Morte, personagem predileta. |
Qual o personagem
mais difícil de escrever?
Então, o roteirista do estúdio MSP tem que saber escrever
todos os personagens, mas o núcleo que eu tenho mais dificuldade é a Turma da Mata,
porque tem aquele lado político, mas ao mesmo tempo não pode ser muito
político. Como eu tendo mais para o humor, quando vou eu alopro, eu faço umas
histórias que brincam bem com esse lado do rei, do reinado. Outro difícil é o
Horácio, que é um personagem do Maurício. A gente tenta de vez em quando, mas é
muito pessoal, difícil conseguir emplacar um roteiro.
De todas as histórias
que você fez, qual você mais gosta?
É complicado. É como filho, difícil dizer qual a gente mais
gosta, mas eu gosto muito dos clássicos do cinema. Eu gosto muito de Coelhada
nas Estrelas, porque sou fã de Star Wars.
Mestre do trocadilho, Flávio adora fazer adaptações de filmes. |
Foi você que criou os
trocadilhos com os filmes, como “O império contra a vaca”?
Sim. O pessoal diz que sou o rei dos trocadilhos. Eu posso
perder o amigo, mas não perco a piada. Teve o Astroboy, que virou Astroboi. Eu
adoro fazer trocadilhos...
Esses trocadilhos já
ficaram famosos. Lá em casa ninguém mais diz O Império Contra-ataca, é
O Império
Contra a Vaca...
Rsrsrs verdade. E tem muita coisa. Por exemplo, Avatar,
virou Avaturma, vem fácil.
Flávio foi o roteirista do casamento mais esperado dos quadrinhos. |
Como é o seu processo
criativo?
Depende. Se o prazo é curto, você fica às vezes meio tenso.
Se você me vê andando para lá e para cá é porque eu estou tenso, eu estou num
processo criativo e ainda não sei para
onde eu vou. Às vezes eu tenho uma ideia e ela vai para três quatro lugares
diferentes e eu tenho que me ater a uma só. Eu sou um cara que gosta de
pesquisar muito sobre o assunto da história. Se vou fazer a história de um filme, vou
pesquisar sobre o filme, se vou fazer a história da pizza, vou pesquisar. Se na
pesquisa vejo a referência a Nápoles, vou pesquisar o que é Napoles, é um link
infinito. No mangá eu tenho um estilo próprio. Eu escrevo a história de forma
corrida em 12 páginas de texto porque os mangás têm que ter 120 páginas. Então
cada página de texto tem que me dar 10 páginas de quadrinhos. Na hora em que
estou passando a limpo é que começo a pensar no layout porque layout de mangá é
diferente e eu começo a pensar: aqui era para dar 10, deu 6, legal, vai dar
para desenvolver um pouco mais outra sequencia...
Como você escreve?
Como se fosse uma peça de teatro. O cebolinha fala, a Monica
fala, etc e a descrição das gags visuais. Na hora de passar a limpo, faço o
layout e vem coisas novas.
Uma coisa
interessante do Maurício é que, apesar do processo ser meio industrial, cada um
tem um estilo e dá para perceber isso nas histórias. A minha filha, que é
especialista em turma da Mônica, diz que o seu forte é o humor.
Isso. Cada um tem uma marca. A turma da Monica Jovem minha,
por exemplo, é bem mais leve. É um humor de fazer gag o tempo todo. Cada
roteirista tem o seu estilo e ele aprece nas histórias. Por exemplo, se você lê
uma história do Mingau, você sabe que é do Paulo Back porque ele tem, tipo, 10
gatos em casa e sabe tudo de gatos. As histórias do Emerson têm um estilo que
você diz: só o Emerson para fazer isso. Ele faz umas coisas bem doidas que só
poderiam sair da cabeça dele.
O que você gosta de
ler, de quadrinhos?
Eu leio de tudo. Leio
super-herói, comecei a ler muita coisa de quadrinho europeu graças ao Sidney Gusman,
que começou a me trazer muita coisa legal.
Eu já percebi nos
seus quadrinhos uma pegada meio Asterix, com muita gag visual.
O Asterix me influenciou muito. Eu adoro os trocadilhos do
Goscinny. Eu li e fiquei pirado. Calvin também. Foram verdadeiras escolas de
roteiro. Aliás, quando comecei, o Maurício falava: tá muito Calvin isso aqui,
dá uma maneirada...rsrsrs
Que dica você daria
par os novos roteiristas?
Você tem que ser muito apaixonado por roteiro e você tem que
ler de tudo, não pode ter preconceito: quadrinho europeu, quadrinho americano,
mangá. Você não pode ficar viciado em uma coisa só. E você tem que se dedicar à
pesquisa. A pesquisa vai transformar muito seu roteiro.
2 comentários:
Mito bom!
Gostei muito, um dia quero mandar uma sugestão de história para os roteiristas da turma da mônica jovem. Quem sabe um dia essa história apareça na revista!?
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