domingo, 6 de março de 2011

Entrevista com Wilde Portella

Wilde Portella é um verdadeiro mestre num gênero de roteiro pouco praticado pelos brasileiros: o faroeste. O gibi do Chet, criado em parceria com o irmão Watson Portella foi um grande sucesso no final da década de 1970 e início dos anos 1980, pela editora Vecchi. E o personagem está de volta para conhecer o Blog do Chet, clique aqui).
Wilde aceitou responder algumas perguntas sobre sua experiência como roteirista.


Como você começou a se interessar por quadrinhos? O que lia quando era criança?
Comecei a me interessar por histórias em quadrinhos justamente quando criança e lia as revistas do Pato Donald, O Guri, O Pequeno Xerife e Texas Kid (O Tex Willer), e muito depois Zorro, Jerônimo, O Herói do Sertão, etc.
Quais foram os roteiristas que o influenciaram?
Acredito eu nenhum roteirista me influenciou. Porém, a partir do momento em que comprei o número um de Epopéia Tri, tive uma visão diferente das histórias em quadrinhos que abordam o tema do faroeste. Depois passei a ler Tex e acredito que tive alguma influência com a fórmula do G.L. Bonelli escrever seus roteiros. Os italianos sempre foram melhores em lidar com o Velho Oeste seja no cinema ou nos quadrinhos.

Como você começou a escrever quadrinhos? Qual foi o seu primeiro trabalho profissional?
Meu primeiro trabalho profissional foi uma revista que tinha o título de O Águia, escrita por mim e desenhada por Watson Portella. Foi feita para uma editora lá de Alagoas, em Arapiraca. Foi um fracasso total, pois foi feito BA base do velho clichê que a nova geração nem conhece, e fotolito para fotografar as páginas. Nem eu nem meu irmão ficamos com uma revista para mostrar para a posteridade. A personagem era um herói mascarado e com capa que lutava contra os nazistas. Quer dizer, um tema batido e já abordado por diversas vezes nas revistas Capitão América e Os Falcões. Assim escrevi meu primeiro roteiro. Mas quando criança, com 11 e 12 anos eu e Watson já produzíamos nossas “revistas” (desenhos e histórias) em velhos cadernos escolares ou em material que nosso pai trazia da Prefeitura onde era Auditor.
O personagem pelo qual você é mais lembrado é o cowboy Chet, talvez o único faroeste nacional que fez grande sucesso. como foi o processo de criação desse personagem?
Caramba! Já respondi essa pergunta umas quinhentas vezes. Chet foi feito por encomenda do Lotário Vecchi na época em que o Otacílio D’Assunção Barros era editor da Vecchi. Então houve todo aquele processo. Começamos com seis capítulos como complemento da revista Ken Parker. Como a aceitação foi boa logo ganhou revista própria e chegou a ser a segunda HQ mais vendida da editora. Só perdendo, claro, para o Tex do Bonelli.

Além de Chet, que outros trabalhos você  destacaria?
Destacaria diversos trabalhos que fiz para o jornal Diario de Pernambuco, Grafipar, Portugal e EBAL. Mas o material que sinto mais orgulho é O Caçador de Esmeraldas que fizemos para a Editora Brasil América. Nós mudamos a fórmula de fazer álbuns paradidáticos. Usamos uma linguagem cinematográfica e funcionou.

Como é a sua relação com o desenhista? Como você escreve o roteiro? Faz full script, marvel way ou rafeia?
Seguinte: Eu escrevo um roteiro meio cinematográfico, com legendas e balões e indicando como fica a cena. Então o desenhista acompanha esse meu raciocínio e atualmente faço questão de ver como ficou a página no lápis. Se ficou bom,ok, caso contrário oriento o desenhista que também pode ficar à vontade para colocar uma cena melhor que a sugerida por mim.
Já teve problemas com desenhistas?
Não, nunca tive problemas com desenhistas. Na época da Vecchi quem cuidava dos desenhistas era o OTA. Eu só mandava a história com 100 páginas e ele se virava. Para que o projeto desse certo chegamos a preparar três revistas com antecedência. E atualmente trabalho com amigos e jovens desenhistas que, por incrível que pareça são fãs do Chet.
Que conselhos você dá a um roteirista iniciante?
Conselho nenhum. A arte de escrever um roteiro tem que estar dentro da pessoa. O que poderia dizer é que sempre caprichem nas histórias. Uma boa história faz com que o desenho ganhe vida. Não adianta um ótimo desenho com uma história ruim. E se o roteirista souber rafear, melhor ainda. Eu sei, mas prefiro escrever.
Eu sempre digo que um dos defeitos do pessoal que quer ser roteiristas é ler só quadrinhos, Que livros você indicaria como leitura obrigatória para um roteirista?
Há livros que podem ajudar o roteirista sim, como por exemplo, numa história longa é necessário ter tramas paralelos. Numa história curta o foco principal pode ser as personagens centrais. O roteirista não deve se guiar apenas em histórias em quadrinhos. Um livro que acho interessante são aqueles que utilizam uma linguagem coloquial o que acontece geralmente num bom romance. Já uma novela escrita para livro não ajuda muito. Os livros Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Marques), Isabel de Minha Alma (Isabel Allende) e segue por aí. O candidato a roteirista deve le, no entanto, o autor que ele achar melhor. Quando a mim, leio de tudo, biografias, ensaios, romances, vovelas e contos.

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