quarta-feira, 25 de junho de 2014

O valor de cada quadro na página

Em uma página de quadrinhos, os quadros podem ter valor narrativo diferente. Alguns merecem maior destaque, seja pela sua importância para a história, seja pelo seu valor dramático ou de ação. Ou seja: alguns quadros são apenas narrativos, outros devem provocar um impacto no leitor. Os quadros de impacto são maiores exatamente por serem mais importantes. O roteirista deve indicar, no roteiro, quando há um quadro de impacto na página.
A minissérie Watchmen é um ótimo exemplo de como utilizar esse recurso, sendo uma verdadeira aula.
Abaixo uma página em que todos quadros têm a mesma importância:

Já na página seguinte, o último quadro tem maior valor dramático. Todos os outros são apenas uma preparação para o impacto deste último, pois o destino do mundo está nas mãos de um idiota:
Watchmen usa um esquema fixo de 9 quadros por página, como se fossem blocos que pudessem ser separados ou unidos.
Para formatinho, o esquema de 6 quadros funciona muito bem e pode ser usado da mesma maneira, inclusive com quadros de impacto. Ótimo exemplo disso são as páginas de Júlias, as aventuras de uma criminóloga.
Na página abaixo, de simples diálogo, não há necessidade de qualquer impacto, então os quadros são iguais: 

Já na página abaixo, o último quadro é maior, de impacto, para destacar a violência do personagem:
Abaixo um exemplo do Monstro do Pântano, de Alan Moore, com um esquema de quadros mais solto, mas que igualmente usa o tamanho do quadro para dar impacto à cena. Nessa imagem o quadro de impacto é o do meio da página, com o ataque dos helicópteros. Percebam como ele é muito maior que os outros:
É importante destacar que o quadro de impacto teve ter força narrativa. Pode ser uma cena de ação, como no exemplo acima, ou uma revelação. No exemplo abaixo, com roteiro meu e desenhos de Fábio Vermelho, o texto instiga a imaginação do leitor, que tenta descobrir o que está acontecendo com o personagem. Quando é revelado que ele está se transformando em um monstro, essa imagem tem força narrativa para ser maior que os outros quadros. 

No exemplo abaixo, com roteiro meu e desenhos de Toninho Lima, o quadro maior é a imagem impacante da mulher loira com a garganta cortada. Como se trata de uma história de terror, é uma imagem que tem grande força narrativa, despertando o interesse do leitor por continuar lendo a HQ. Um ponto a destacar aqui é aquilo que chamo de texto irônico, quando a legenda diz o oposto do que está sendo mostrado. O texto diz que o personagem não se surpreende com mais nada, mas nitidamente ele está surpreso com a aparição do fantasma.

 O quadrinho abaixo, Demônios, com roteiro meu e desenhos de Fábio Puper Machado, traz um exemplo de como usar uma splash page como elemento de revelação. Embora não tenha tanto impacto visual, ela merece o destaque por surpreender o leitor e trazer um outro significado para o que até então vinha sendo narrado. A splash page marca o plot twist da HQ. 




E, para quem não sacou a referência, essa história tem várias imagens que foram inspiradas no artista Hieronymus Bosch

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