sexta-feira, 7 de maio de 2010

Escrevendo sátiras para a MAD

Quando fui convidado pelo Raphael Fernandes para a escrever uma sátira do BBB 9, o que seria minha estreia na MAD, confesso que tremi na base. A MAD tem um tipo muito característíco de humor. Anarquico, claro, mas que também obedece algumas regrinhas simples, que ajudam a cosia a ficar mais engraçada. Na época, fui para minha coleção e reli dezenas de sátiras tentando compreender o estilo. De lá para cá, já escrevi vários textos para a publicação. Não posso dizer que já sou um roteirista especialista em MAD, mas acho que posso compartilhar algumas das coisas que aprendi escrevendo e, principalmente lendo a MAD:  

1) Geralmente as sátiras iniciam com um painel grande, de apresentação. Pode ser apenas um quadro grande, uma página inteira, ou uma página dupla, como foi a minha sátira do BBB. A função dessa página é mostrar quem são os personagens e contar rapidamente a história que está sendo satirizada, o que abre caminho para que mesmo quem não conheça a obra original possa dar algumas gargalhadas.  Nesse painel é muito aconselhado fazer piadas visuais de fundo, como os BBBs dentro de uma bolha com uma placa: não dê comida aos animais.


2) Cada quadro deve conter uma piada. Como geralmente as sátiras ocupam poucas páginas, a maioria dos roteiristas não desperdiça quadro: todos precisam ter algo engraçado.


3) Diálogo bate-volta. Uma técnica muito usada pelos roteiristas é colocar um diálogo em três ou quatro momentos. Normalmente há uma piada no meio, mas o mais engraçado fica para o final. Eu usei esse recurso na minha sátira do filme Crepúsculo (que foi renomeada Prepúcio): 



Q2 – Mella está apresentando Fedward ao seu pai. Chále Swando está com um rifle nas mãos, granadas pelo corpo. Em suma, ele está preparado para ir à guerra.
Mella: Pai, vou sair hoje com Fédward.
Chále: Ótimo. Mas afaste-se dele quando eu começar a atirar...
Mella: Pai, o senhor disse que ia ser simpático!
Chále: E estou sendo... uso o rifle ou a bazuca? 

4) Duplo sentido. Esses diálogos bate-volta geralmente brincam muito com o duplo sentido. O verdadeiro sentido a primeira fala do personagem só é revelada na tréplica dele. Mais uma vez, uma sequência da sátira do Crepúsculo: 

Fédward e Mella estão na cena do quarto, do quase sexo. Penso que ele está se aproximando dela e ela está lá, esperando um beijo. Ele usa uma camisa com os dizeres EU RESISTO e ela com a camisa EU DESISTO.
Fédward: Tenho muita vontade de fazer uma coisa com você... mas preciso resistir!
Mella: Você está pensando em... sexo?
Fédward: Quem falou em sexo? Eu estava pensando em fazer compras no shoping! 




5) Non-sense. A graça do diálogo muitas vezes está em não fazer sentido, como na sátira de O Iluminado, escrita por Larry Siegel e desenhada por Angelo Torres (publicado no Brasil na MAD especial 3, Panini). Jeca Porrance está dirigindo na direção ao hotel quando o filho começa a falar com o dedo: 

Jeca: Doenty, tô um pouco preocupado com esse garoto! Ele sempre teve essas conversas idiotas com o dedo indicador? 
Doenty: Nem sempre! Só desde ontem, quando ele brigou com o mindinho! 
Jeca: Ufa! Jà tava ficando preocupado! 


5 comentários:

Gilberto Queiroz disse...

Fala, Gian! Como sempre, matérias bem interessantes para amantes de quadrinhos.
Ótima semana,
Abração,

Joe de Lima disse...

Muito bom, Gian!

Jerri Dias disse...

Muito legal. Parabéns! MAD é uma das grandes referências pra todos os bons escritores de humor.

Abraço.

Ton Marx disse...

Muito interessante mesmo. Também escrevo (e desenho) sátiras.

http://wwmarx.blogspot.com

Abraços

D.Ramírez disse...

Boas Gian, entrei pra conhecer e me deparo com o amigo Jerri, até aqui tu?.rs
Gian, precisava falar com vc, trocar uams idéias, poderia entrar em contato? Tem meu e mail no perfil do meu blog.
Abração!

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails