Dia 06 de setembro, às 19:00 horas, na Livraria Nobel Salgado Filho, em Natal, vai acontecer o lançamento do livro Grafipar - a editora que saiu do eixo, com a presença do autor, Gian Danton.
Grafipar - a editora que saiu do eixo foi um dos finalistas do Troféu HQ Mix 2013, na categoria Melhor Livro Teórico sobre Quadrinhos.
SOBRE O LIVRO
A obra, escrita por Gian Danton, é resultado de mais de 20 anos de pesquisas e conta a história dessa editora e de seu líder, o descendente de japoneses e ativista cultural da colônia nipônica Cláudio Seto, também introdutor da linguagem do mangá no Brasil.
Na década de 1970, quando o assunto sexo ainda era tabu, surgiu no Paraná uma editora especializada em erotismo, a Grafipar, que logo se destacou com seus quadrinhos nacionais, sempre misturando erotismo com gêneros como terror, ficção científica, folclore e policial.
Em pouco tempo, a editora transformou Curitiba em um ponto de referência para os quadrinhos nacionais, para onde convergiram importantes desenhistas e roteiristas, como Mozart Couto, Rodval Mathias, Watson Portela, Gustavo Machado, Vilachã, Sebastião Seabra, Fernando Bonini, Itamar Gonçalves e Franco de Rosa, dentre outros.
O livro analisa as revistas da Grafipar, suas histórias e, ainda, trata dos bastidores da “vila de quadrinhistas”, que existiu em Curitiba no início dos anos 1980.
Grafipar – A editora que saiu do eixo (formato 16 x 23 cm, 168 páginas, R$ 35,00), Editora Kalaco.
SOBRE O AUTOR
Gian Danton, pseudônimo de Ivan Carlo Andrade de Oliveira, é escritor e roteirista amapaense de histórias em quadrinhos, além de professor da Universidade Federal do Amapá.
Começou a escrever quadrinhos com a história Floresta Negra, desenhada por Bené Nascimento (Joe Bennett), e publicada na revista Calafrio (editora D-Arte). Publicou em diversas editoras, como ICEA, Nova Sampa, Metal Pesado e pela estadunidense Fantagraphics Books.
Em 1991, ganhou o prêmio Araxá como melhor roteirista. Seu trabalho mais conhecido na área de quadrinhos foi a graphic novel Manticore, que contava a história do chupa-cabra com clara influência do seriado Arquivo X e dos escritores estadunidenses de ficção científica.Essa revista ganhou os prêmios Angelo Agostini, HQ Mix e Associação Brasileira de Arte Fantástica.
Em 2010, seu conto "Casamento" venceu o I Concurso de Crônicas e Contos, organizado pela Editora Geração. No mesmo ano, ao lado do quadrinista cearense JJ Marreiro, Gian criou uma história do Astronauta para o álbum MSP+50, livro em homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa.
É autor de diversos livros técnicos nas áreas de comunicação e metodologia científica, e das novelas O Anjo da Morte e Spaceballs (editora Hiperespaço) e do livro infantil Os Gatos (Editora Módulo). Tem também se dedicado ao estudo das histórias em quadrinhos, com os livrosWatchmen e a teoria do caos (Marca de Fantasia), Ciência e quadrinhos (Marca de Fantasia), O Roteiro nas Histórias em Quadrinhos (Marca de Fantasia), e Roteiro para quadrinhos(Popmídia).
Participou das antologias Rumo à fantasia (Devir), Espectra (Literata), Fantasiando (Regência),PsyVamp (Infinitum), entre outras. É autor da série juvenil Mundo Monstro (Infinitum), e da webcomic Exploradores do Desconhecido (em parceria com o desenhista Jean Okada). Mantém o blog Ideias de Jeca-tatu: ivancarlo.blogspot.com.
SERVIÇO
Lançamento do livro Grafipar - a editora que saiu do eixo
Quando: dia 06 de setembro
Onde: Livraria Nobel Salgado Filho (Av. Salgado Filho, 1782 - Tirol - Fone: 3613-2007)
Horário: 19:00 horas
Dia 06 de setembro, às 19:00 horas, na Livraria Nobel Salgado Filho, em Natal, vai acontecer o lançamento do livro Grafipar - a editora que saiu do eixo, com a presença do autor, Gian Danton.
Grafipar - a editora que saiu do eixo foi um dos finalistas do Troféu HQ Mix 2013, na categoria Melhor Livro Teórico sobre Quadrinhos.
SOBRE O LIVRO
A obra, escrita por Gian Danton, é resultado de mais de 20 anos de pesquisas e conta a história dessa editora e de seu líder, o descendente de japoneses e ativista cultural da colônia nipônica Cláudio Seto, também introdutor da linguagem do mangá no Brasil.
Na década de 1970, quando o assunto sexo ainda era tabu, surgiu no Paraná uma editora especializada em erotismo, a Grafipar, que logo se destacou com seus quadrinhos nacionais, sempre misturando erotismo com gêneros como terror, ficção científica, folclore e policial.
Em pouco tempo, a editora transformou Curitiba em um ponto de referência para os quadrinhos nacionais, para onde convergiram importantes desenhistas e roteiristas, como Mozart Couto, Rodval Mathias, Watson Portela, Gustavo Machado, Vilachã, Sebastião Seabra, Fernando Bonini, Itamar Gonçalves e Franco de Rosa, dentre outros.
O livro analisa as revistas da Grafipar, suas histórias e, ainda, trata dos bastidores da “vila de quadrinhistas”, que existiu em Curitiba no início dos anos 1980.
Grafipar – A editora que saiu do eixo (formato 16 x 23 cm, 168 páginas, R$ 35,00), Editora Kalaco.
SOBRE O AUTOR
Gian Danton, pseudônimo de Ivan Carlo Andrade de Oliveira, é escritor e roteirista amapaense de histórias em quadrinhos, além de professor da Universidade Federal do Amapá.
Começou a escrever quadrinhos com a história Floresta Negra, desenhada por Bené Nascimento (Joe Bennett), e publicada na revista Calafrio (editora D-Arte). Publicou em diversas editoras, como ICEA, Nova Sampa, Metal Pesado e pela estadunidense Fantagraphics Books.
Em 1991, ganhou o prêmio Araxá como melhor roteirista. Seu trabalho mais conhecido na área de quadrinhos foi a graphic novel Manticore, que contava a história do chupa-cabra com clara influência do seriado Arquivo X e dos escritores estadunidenses de ficção científica.Essa revista ganhou os prêmios Angelo Agostini, HQ Mix e Associação Brasileira de Arte Fantástica.
Em 2010, seu conto "Casamento" venceu o I Concurso de Crônicas e Contos, organizado pela Editora Geração. No mesmo ano, ao lado do quadrinista cearense JJ Marreiro, Gian criou uma história do Astronauta para o álbum MSP+50, livro em homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa.
É autor de diversos livros técnicos nas áreas de comunicação e metodologia científica, e das novelas O Anjo da Morte e Spaceballs (editora Hiperespaço) e do livro infantil Os Gatos (Editora Módulo). Tem também se dedicado ao estudo das histórias em quadrinhos, com os livrosWatchmen e a teoria do caos (Marca de Fantasia), Ciência e quadrinhos (Marca de Fantasia), O Roteiro nas Histórias em Quadrinhos (Marca de Fantasia), e Roteiro para quadrinhos(Popmídia).
Participou das antologias Rumo à fantasia (Devir), Espectra (Literata), Fantasiando (Regência),PsyVamp (Infinitum), entre outras. É autor da série juvenil Mundo Monstro (Infinitum), e da webcomic Exploradores do Desconhecido (em parceria com o desenhista Jean Okada). Mantém o blog Ideias de Jeca-tatu: ivancarlo.blogspot.com.
SERVIÇO
Lançamento do livro Grafipar - a editora que saiu do eixo
Quando: dia 06 de setembro
Onde: Livraria Nobel Salgado Filho (Av. Salgado Filho, 1782 - Tirol - Fone: 3613-2007)
Horário: 19:00 horas
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Livro sobre roteiro é o mais vendido da Amazon na categoria quadrinhos
Meu livro Curso de roteiro para HQ está há dois dias como o mais vendido na Amazon na categoria Quadrinhos. Veja a lista completa aqui.
HQ de Gian Danton e Ricardo Manhães é selecionada em edital de literatura
A história em quadrinhos Turma da Tribo, com roteiro de Gian Danton e arte de Ricardo Manhaes, foi um dos trabalhos selecionados no edital Simãozinho Sonhador, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado do Amapá.
Turma da Tribo é uma história em quadrinho infantil voltada para temas amazônicos, como a preservação da floresta. Nela a realidade local, como um jantar à base de açaí e camarão, se mistura ao traço europeu de Manhães. Repleta de trocadilhos e palavras regionais (o vilão chama-se Doutor Malino), a série também se destaca pelo humor gráfico.
Na história, os índios Poti, Apoema e Toró encontram uma área de floresta devastada, com árvores caídas para todos os lados. Logo descobrem que se trata do plano de um vilão e seus desastrados ajudantes, que pretendem se apoderar de toda a madeira de lei da reserva. Para impedi-los, o trio contará com a ajuda de Baquara, o inventor da tribo. Mas a grande ajuda mesmo acaba vindo de um ser da floresta, o Caipora.
Gian Danton é roteirista de quadrinhos desde 1989, já tendo trabalhado para diversas editoras e revistas, entre elas a MAD. Durante anos foi o roteirista de Joe Bennett, com o qual criou a cultuada HQ Família Titã. Seu trabalho mais conhecido na área foi o texto da graphic novel em duas partes Manticore, ganhadora dos prêmios Ângelo Agostini, HQ Mix e Nova. Foi um dos selecionados para o álbum MSP+50 em homenagem aos 50 anos de carreira de Maurício de Sousa, para o qual produziu uma versão vintage do Astronauta, com desenhos de JJ Marreiro. Seu livro Grafipar, a editora que saiu do eixo, foi indicado este ano para o prêmio HQ Mix na categoria melhor livro teórico.
Ricardo manhães é ilustrador e autor de história em quadrinhos. Trabalhando há mais de 14 anos para o mercado europeu de HQ , conta com participações em coleções importantes do mercado Francês e Belga como “Les Guides en BD” e “Les Foot Furieux”, e também várias publicações traduzidas para o Holandês. Todos os álbuns publicados, seja solo ou em participações, somam mais de 160.000 exemplares vendidos na Europa. Em 2010 foi convidado a fazer sua versão da Turma da Mônica, em estilo Franco-Belga de humor, para o álbum MSP+50 em homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa.
O gibi tem previsão de lançamento para o mês de dezembro. O projeto prevê a distribuição dos gibis na rede pública de ensino.
Turma da Tribo é uma história em quadrinho infantil voltada para temas amazônicos, como a preservação da floresta. Nela a realidade local, como um jantar à base de açaí e camarão, se mistura ao traço europeu de Manhães. Repleta de trocadilhos e palavras regionais (o vilão chama-se Doutor Malino), a série também se destaca pelo humor gráfico.
Na história, os índios Poti, Apoema e Toró encontram uma área de floresta devastada, com árvores caídas para todos os lados. Logo descobrem que se trata do plano de um vilão e seus desastrados ajudantes, que pretendem se apoderar de toda a madeira de lei da reserva. Para impedi-los, o trio contará com a ajuda de Baquara, o inventor da tribo. Mas a grande ajuda mesmo acaba vindo de um ser da floresta, o Caipora.
Gian Danton é roteirista de quadrinhos desde 1989, já tendo trabalhado para diversas editoras e revistas, entre elas a MAD. Durante anos foi o roteirista de Joe Bennett, com o qual criou a cultuada HQ Família Titã. Seu trabalho mais conhecido na área foi o texto da graphic novel em duas partes Manticore, ganhadora dos prêmios Ângelo Agostini, HQ Mix e Nova. Foi um dos selecionados para o álbum MSP+50 em homenagem aos 50 anos de carreira de Maurício de Sousa, para o qual produziu uma versão vintage do Astronauta, com desenhos de JJ Marreiro. Seu livro Grafipar, a editora que saiu do eixo, foi indicado este ano para o prêmio HQ Mix na categoria melhor livro teórico.
Ricardo manhães é ilustrador e autor de história em quadrinhos. Trabalhando há mais de 14 anos para o mercado europeu de HQ , conta com participações em coleções importantes do mercado Francês e Belga como “Les Guides en BD” e “Les Foot Furieux”, e também várias publicações traduzidas para o Holandês. Todos os álbuns publicados, seja solo ou em participações, somam mais de 160.000 exemplares vendidos na Europa. Em 2010 foi convidado a fazer sua versão da Turma da Mônica, em estilo Franco-Belga de humor, para o álbum MSP+50 em homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa.
O gibi tem previsão de lançamento para o mês de dezembro. O projeto prevê a distribuição dos gibis na rede pública de ensino.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
O Marvel Way
O marvel way é uma modalidade de roteiro em que o roteirista discute com o desenhista, ou lhe entrega uma sinopse, e este desenha as páginas, que são posteriormente devolvidas ao roteirista para que sejam colocados os textos e diálogos. É chamado assim porque foi um método criado por Stan Lee e utilizado por todos os roteiristas da casa das ideias. Há um grande preconceito contra o marvel way. Uma pessoa, por exemplo, me dizia que Stan Lee não era co-autor das histórias, uma vez que ele se baseava no desenho pronto.
Essa visão equivocada e preconceituosa parte da ideia de que o texto é apenas um complemento do desenho numa história em quadrinhos. Isso podia até ser verdade nos primórios dos quadrinhos, quando o desenho mostrava o herói batendo no bandido e o texto dizia: "O heroi bate no bandido". Da Marvel para cá, o texto tem se caracterizado por permitir uma outra leitura do desenho, muitas vezes resignificando-o, como aconteceu com o Surfista Prateado, que era apenas um arauto de Galactus e, com o texto de Lee, tornou-se uma espécie de filósofo interestelar: ¨Quando chegou a hora de estabelecer o seu padrão de discurso, comecei a imaginar de que forma um apóstolo das estrelas se expressaria. Parecia haver uma aura biblicamente pura no nosso Surfista Prateado, algo altruísta e magnificamente inocente¨. Isso é chamado de resignificar e é um princípio básico da arte moderna e pós-moderna.
Eu usei muito o Marvel em todas as histórias que escrevi com o compadre Joe Bennett. Nós discutíamos a história, o Joe muitas vezes fazia o rafe na minha frente e eu colocava o texto em cima do rafe.
Era sempre um desafio, pois Joe Bennett é da escola de Jack Kirby, John Buscema e Garcia Lopez, todos grandes narradores visuais. Ou seja: ele parecia contar toda a história apenas com imagens. Então logo descobri que meu texto deveria criar uma camada a mais de leitura e interpretação.
Uma das páginas que, lembro, me deram muito trabalho, foi a cena da história O farol. Na história, um casal de namorados encontra um farol desconhecido em uma praia deserta e decide investigar. Quando estão lá dentro, acabam se perdendo (não, não vão contar o resto). Na sequência abaixo, Fábio se separou de Cassandra e vai se desesperando aos poucos ao não conseguir encontrar a saída. Lembro que quando peguei a página rafeada, pensei: "Caramba, o que vou colocar aqui? O Joe já contou tudo com desenhos!". No final, o texto cria uma camada a mais de leitura, permitindo que o leitor conheça o personagem, sua história de vida e motivações. E, claro, termina com uma ironia, que só funciona em conjunto com o desenho...
Na história A Família Titã, eu o Joe não tivemos tempo para conversar sobre os detalhes da história. O compadre precisava de dinheiro urgente e o Franco havia nos pedido 30 páginas para duas semanas, com tudo pronto. Algum tempo depois, descobrimos que, para o Joe, o Tribuno era o vilão, afinal o desenho o mostrava praticando as mais terríveis barbaridades. Mas para mim ele era o heroi, e o texto justificava suas ações, dando uma motivação para o personagem. E até hoje muitos leitores fãs da dupla debatem se ele é um vilão ou um heroi. Eis um exemplo de como texto e desenho podem permitir várias leituras de uma obra numa história em quadrinhos.
Na Refrão de Bolero, uma moça viaja para Belém e se encanta com Belém e diz que ela é uma cidade de cartão postal. No final, quando é assaltada e se vê sozinha e perdida, sem dinheiro ou conhecidos numa cidade que de fato não conhece, ela diz: "Agora tudo que eu tenho é um profundo corte na mão e uma cidade de cartão postal". O texto, além de dar um duplo sentido para a expressão "cidade de cartão postal" (positivo no início, negativo no final), apresenta os sentimentos da personagem de uma forma que o desenho não poderia fazer. Vale lembrar que a ideia da história surgiu quando eu fui assaltado em Belém.
Os quadrinhos, portanto, são uma junção de texto e desenho em que nenhum é mais importante que o outro e a coisa só funciona se houver harmonia entre eles.
Houve uma época, nos primórdios dos quadrinhos em que o texto era realmente redundante com relação à imagem e até desnecessário. Arte: Antonio Eder |
Essa visão equivocada e preconceituosa parte da ideia de que o texto é apenas um complemento do desenho numa história em quadrinhos. Isso podia até ser verdade nos primórios dos quadrinhos, quando o desenho mostrava o herói batendo no bandido e o texto dizia: "O heroi bate no bandido". Da Marvel para cá, o texto tem se caracterizado por permitir uma outra leitura do desenho, muitas vezes resignificando-o, como aconteceu com o Surfista Prateado, que era apenas um arauto de Galactus e, com o texto de Lee, tornou-se uma espécie de filósofo interestelar: ¨Quando chegou a hora de estabelecer o seu padrão de discurso, comecei a imaginar de que forma um apóstolo das estrelas se expressaria. Parecia haver uma aura biblicamente pura no nosso Surfista Prateado, algo altruísta e magnificamente inocente¨. Isso é chamado de resignificar e é um princípio básico da arte moderna e pós-moderna.
Eu usei muito o Marvel em todas as histórias que escrevi com o compadre Joe Bennett. Nós discutíamos a história, o Joe muitas vezes fazia o rafe na minha frente e eu colocava o texto em cima do rafe.
Era sempre um desafio, pois Joe Bennett é da escola de Jack Kirby, John Buscema e Garcia Lopez, todos grandes narradores visuais. Ou seja: ele parecia contar toda a história apenas com imagens. Então logo descobri que meu texto deveria criar uma camada a mais de leitura e interpretação.
Uma das páginas que, lembro, me deram muito trabalho, foi a cena da história O farol. Na história, um casal de namorados encontra um farol desconhecido em uma praia deserta e decide investigar. Quando estão lá dentro, acabam se perdendo (não, não vão contar o resto). Na sequência abaixo, Fábio se separou de Cassandra e vai se desesperando aos poucos ao não conseguir encontrar a saída. Lembro que quando peguei a página rafeada, pensei: "Caramba, o que vou colocar aqui? O Joe já contou tudo com desenhos!". No final, o texto cria uma camada a mais de leitura, permitindo que o leitor conheça o personagem, sua história de vida e motivações. E, claro, termina com uma ironia, que só funciona em conjunto com o desenho...
Na história A Família Titã, eu o Joe não tivemos tempo para conversar sobre os detalhes da história. O compadre precisava de dinheiro urgente e o Franco havia nos pedido 30 páginas para duas semanas, com tudo pronto. Algum tempo depois, descobrimos que, para o Joe, o Tribuno era o vilão, afinal o desenho o mostrava praticando as mais terríveis barbaridades. Mas para mim ele era o heroi, e o texto justificava suas ações, dando uma motivação para o personagem. E até hoje muitos leitores fãs da dupla debatem se ele é um vilão ou um heroi. Eis um exemplo de como texto e desenho podem permitir várias leituras de uma obra numa história em quadrinhos.
Na Refrão de Bolero, uma moça viaja para Belém e se encanta com Belém e diz que ela é uma cidade de cartão postal. No final, quando é assaltada e se vê sozinha e perdida, sem dinheiro ou conhecidos numa cidade que de fato não conhece, ela diz: "Agora tudo que eu tenho é um profundo corte na mão e uma cidade de cartão postal". O texto, além de dar um duplo sentido para a expressão "cidade de cartão postal" (positivo no início, negativo no final), apresenta os sentimentos da personagem de uma forma que o desenho não poderia fazer. Vale lembrar que a ideia da história surgiu quando eu fui assaltado em Belém.
Os quadrinhos, portanto, são uma junção de texto e desenho em que nenhum é mais importante que o outro e a coisa só funciona se houver harmonia entre eles.
terça-feira, 28 de maio de 2013
Nelson Padrella, o poeta dos quadrinhos
Pouco conhecido das gerações atuais, Nelson Padrella é um dos melhores roteiristas de quadrinhos de todos os tempos. Em plena década de 1970 ele escrevia para a editora Grafipar roteiros eróticos que misturavam quadrinhos com poesia para os quadrinhos, antecipando o que seria feito posteriormente por artistas como Alan Moore, Neil Gaiman e Edgar Franco.
Abaixo uma entrevista que fiz com ele por e-mail:
Abaixo uma entrevista que fiz com ele por e-mail:
1 - Quando você começou a escrever ficção?
Tive um ótimo aprendizado no ginásio de Palmeira, onde me foi incutido o gosto pela leitura e, em conseqüência, pela experiência de escrever. Como tenho mania de grandeza, minha primeira obra foi um romance, inédito até hoje e sempre. Palmeira não oferecia muita chance para um adolescente. Ou era roubar fruta nos quintais e ser um mau menino ou era fazer o que fiz e me tornei um rato de biblioteca. A velha biblioteca de Palmeira não tinha lá grande riqueza, principalmente naqueles remotos anos 50.
Minha saída de Palmeira e chegada a Curitiba deu-se no fim daquela década, e logo me enturmei com o grupo de intelectuais da cidade: Walmor Marcellino, Sylvio Back, René Dotti, Helio Puglielli e outros. Com a chegada dos militares ao Poder, fomos os primeiros a lançar um livro de ficção contestando o Golpe. Sete de Amor e Violência trazia trabalhos de sete escritores comunistas porque era comunista todos aqueles que criticassem a nova ordem. Foi minha primeira ficção publicada. Depois vieram outros livros, prêmios nacionais e estaduais. Até o lançamento de Meu Bimbim, prêmio Melhor Paranaense em concurso nacional.
2 - Como você começou a publicar na grafipar? É verdade que o Faruk disse que o seu primeiro roteiro parecia ter sido escrito por uma freira?
A importância da Grafipar para mim foi que ela acenava com a possibilidade de eu fazer o que mais gostava de fazer: Escrever (e pintar). E ainda me pagariam por isso. Apresentei ao Faruk um texto para quadrinização. Foi lido e devolvido, parece que faltou pimenta. Então, imbuído das minhas melhores sacanagens escrevi uma história realmente picante – e esse picante aí não está gratuito. Entreguei em mãos do Faruk, talvez até achando que ele me admoestaria pelo conteúdo do texto mas, após ler minha encíclica, disse que esse seria um texto que até a madre superiora poderia redigir. Isso mexeu com os meus brios e a partir dalidepravei geral, para gáudio da HQ e desgáudio da caretice da época.
Padrella costumava colocar referências aos amigos quadrinistas nas histórias, como nessa página. |
3 - Você lia quadrinhos na época? Que tipo de quadrinho lia? Quais eram suas influências?
Comecei a ler quadrinhos quando ainda não sabia ler. Explico: Morava no Rio de Janeiro e meu pai trazia o jornal e dentro dele suplementos do Gibi e do Globo. (Havia revistas de HQ com esses títulos: O Gibi Mensal e O Globo Juvenil Mensal, O Guri, etc., mas essas meu pai não comprava. O que eu “lia” eram os suplementos. Eu teria 6, 7 anos). Fui morar em Palmeira em 1947 e lá sequer havia banca de revista. Era um sacrifício para meu irmão e eu conseguirmos comprar o Almanaque d’O Globo Juvenil Mensal, que passava de trem oriundo da capital. Dias e dias de tocaia na estação para localizar o jornaleiro dentro do trem e rezar para que ele estivesse nas imediações de seu revistório e não alhures oferecendo jornais aos passageiros.Quando finalmente foi aberta a Banca do Seo Zeca, na pracinha da igreja, eu lia tudo: Foi o tempo de ouro da Brasil-América. E essa editora não parava de lançar títulos novos, em todas as áreas. Haja mesada!
4 - Você acompanhava as histórias depois que elas eram publicadas? Conferia como ficava?
Final dos anos 60 vim morar definitivamente em Curitiba. Pintava telas e vendia bem, e fiz nome no cenário das artes plásticas nacionais. A entrada no mundo das HQs deu-se por acaso. Fui convidado para mostrar meu trabalho e o resto você já sabe. Quando meu texto passou a agradar ele era disputado pelos maiores quadrinistas do país; Shimamoto, que só desenhava o que ele próprio escrevia, pedia textos meus. Outro que só trabalhava na base do “eu faço tudo” foi o Eros Maichrowicz, que também pedia textos meus. Até Claudio Seto, em cuja criação Maria Erótica ninguém botava a mão, aceitou minha colaboração. Eu procurava ficar sempre com um ou mais exemplares de todas as revistas da Grafipar. E meu desvelo valeu porque enriqueceu a recente mostra de quadrinhos de Curitiba. E é interessante você ver um texto seu quadrinizado, principalmente se o desenhista enriquece seu trabalho.
5 - Qual era o seu desenhista predileto?
Eu gostava muito da delicadeza dos traços mágicos de Rodval Matias, acho que era meu preferido. E também amava o traço ousado de Eros Maichrovicz. E alguns outros, como mestre Shimamoto, de que me lembro.
6 - Você foi um dos primeiros a colocar poesia no texto quadrinístico. Você já tinha visto alguém fazer isso, ou foi intuitivo?
Aos desenhistas agradava meu texto porque fugia do convencional (preparação para transa e a transa em si). Eu inventava um certo surrealismo que, se podia destoar do enfoque principal (a transa), por outro lado enriquecia a história, levando o leitor a outro patamar. Os desenhistas deviam estar enjoados da mesmice, e lá vinha o velho Padrella com seu lirismo, criando um pouco de música, um tango argentino dançando entre os personagens. Na realidade, era-me muito penoso escrever a coisa crua, o ato sexual sem arte. Um pouco de “poesia” levava a história para o campo da arte, e isso agradava ao leitor e a mim. Foi tudo intuitivo.
7 - Como era o seu processo criativo?
Para criar histórias não havia na realidade um processo. Era sentar diante da Remington, colocar ali a lauda e mandar bala. A coisa fluía como se outro que não fosse eu tirasse as rédeas de mim e cavalgasse livre pelos campos da criatividade.
8 - Como você começou a escrever histórias gays?
8 - Como você começou a escrever histórias gays?
Ah! Isso de histórias gays é bem interessante. Pululavam em todo território nacional leitores ávidos pelas revistas da Grafipar. E dá-lhe a editora a lançar novos títulos. Começou com histórias de amor e a revista capitã foi Eros. Durou pouco porque já havia esse título alhures e Eros mudou de nome e ficou sendo Quadrinhos Eróticos. Em seguida, a mente incansável de Claudio Seto passou a apresentar à empresa uma gama de possibilidades. Tudo intimamente atrelado a sexo. Era sexo no faroeste, era sexo de terror, era sexo cobrindo todas as áreas. Sempre com muito sucesso. Tinha até leitor que, entusiasmado com o sucesso da Grafipar, incendiava bancas de revistas. Mas isso já outra história. Bom.
Não lembro exatamente como foi. Sei que encurtava para nós escritores os horizontes das possibilidades. Afinal de contas, tudo se resumia entre mulher procura homem, homem procura mulher. Estavam vetados certos rumos como zoofilia, religiões, militares, pedofilia. Isso causava pruridos em mim, que sempre fui provocador. Então, escrevi histórias com animais, que foram aceitas porque estariam dentro das normas. Botei freira na jogada. Inseri “dimenor” no jogo do sexo, o que contrariava o disposto em lei. Mas tudo foi escrito de maneira a encobrir com o pálido véu do lirismo as verdadeiras e sacanas intenções. Fui um infrator, reconheço. Mas homossexualismo, não. Jamais! Onde é que se viu! No entanto, provocador como sempre fui, pincelava aqui e ali uns lances estranhos. Em seguida, Seto abria o olho para mais essa possibilidades e a Grafipar abriu as portas para o texto GLBTS&Cia. (Rose, uma revista de texto, dirigida aos rapeize, tinha sempre uma história curta de amor gay). Esclareço que não era fácil levar os desenhistas, tudo maxo de carteirinha, a desenhar histórias nessa linha. Acredito que fui o único escritor a criar textos gays para a Grafipar.
quinta-feira, 21 de março de 2013
Depoimento sobre o livro O roteiro nas histórias em quadrinhos
O quadrinista Renato Medeiros escreveu, no Facebook, um depoimento sobre
o meu livro O roteiro nas histórias em quadrinhos, publicado pela
editora Marca de Fantasia (www.marcadefantasia.com.br). Renato é um dos grandes nomes dos quadrinhos do Rio Grande do Norte. Leia
abaixo a íntegra:
Caro Gian Danton, agradeço a sua pessoa pelo incrivel livro que escreveste sobre roteiro de historias em quadrinhos. Grande material e incrivel clareza. Parabéns! Que você continue nos esclarecendo as dúvidas desse mundo das hqs. Nem tenho palavras para agradecer, mas uma que acho mais apropriado deve significar alguma coisa que é: ajuda, agradecido! Recomendo recomendo seu livro e seu blog a todos que desejam fazer roteiro de HQ. Aliás no TOP, TOP do Manassés na Paraíba que ministrei uma óficina de roteiro para HQ mencionei seu livro e sua relevância para as feitura das comics. Muito bom!
abaixo a íntegra:
Caro Gian Danton, agradeço a sua pessoa pelo incrivel livro que escreveste sobre roteiro de historias em quadrinhos. Grande material e incrivel clareza. Parabéns! Que você continue nos esclarecendo as dúvidas desse mundo das hqs. Nem tenho palavras para agradecer, mas uma que acho mais apropriado deve significar alguma coisa que é: ajuda, agradecido! Recomendo recomendo seu livro e seu blog a todos que desejam fazer roteiro de HQ. Aliás no TOP, TOP do Manassés na Paraíba que ministrei uma óficina de roteiro para HQ mencionei seu livro e sua relevância para as feitura das comics. Muito bom!
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Entrevista com Flávio Teixeira, roteirista da Turma da Mônica
Flávio inspirou a criação de um personagem, primo do Rolo. |
Flávio Teixeira é um dos mais atuantes roteirista do estúdio
Maurício de Sousa Produções. Entre os
seus trabalhos se destacam várias
adaptações de filmes e o casamento da Mônica na versão jovem. Os fãs se
deliciam com sua verve para o humor, o trocadilho e as referências à cultura
pop com as quais enche suas histórias. Nesta entrevista ele fala um pouco de
sua carreira de seu processo de criação.
O que você lia quando
era criança?
Eu comecei a ler turma da Monica, que acho que todo mundo lê
quando é criança, e algumas coisas estranhas para mim na época, como Fantasma, super-heróis,
mas o que mais me cativou foi a Turma da Monica, o que me ajudou, pois depois,
como ia trabalhar com esses personagens, foi isso que acabou me formando como
roteirista.
Como você começou a
escrever roteiros?
Quando era criança eu adorava a escrever histórias. Fazia
histórias dos meus personagens, os professores me incentivavam e aos sete anos
eu fiz uma historinha e mandei para a Folhinha, que tinha um espaço chamado
futuro artista. Mal sabia eu que ia ser mesmo um futuro artista de quadrinhos. Quando
cresci, fui trabalhar com desenho animado, como desenhista, eu nem sabia que
existia roteirista. Na época do plano Collor eu fui demitido e sugeriram que eu
procurasse o Maurício e lá um amigo disse que eu tinha muita criatividade e
sugeriu que eu fizesse teste para roteirista. Eu comecei a fazer em folha de
caderno. Aliás, o primeiro roteiro que fiz foi o Batmão, que é uma história do
Batman com o Jotalhão em que ele vai assistir a um filme do Batman e pede para
a Monica fazer uma roupa para ele. Foi o primeiro que eu fiz, mas o primeiro
que publicado foi da Dona Morte, que é um personagem que adoro. Eu inclusive
dei uma mudada na personagem. Os roteiristas tinham uma outra maneira de fazer
ela, uma coisa mais durona. E era meio assexuada. Era dona morte, mas não era
bem uma mulher e eu comecei uma Dona Morte mais gente boa, mais feminina. Fui
mudando aos poucos, o Mauricio aceitou e eu achei muito legal. A primeira
história que saiu trata de suicídio, que hoje seria impossível por causa do
politicamente correto. Era um cara tentando se jogar de uma ponte com uma
pedra, e a Dona Morte convencia ele a não fazer isso porque ele não estava na
cota dela .
Qual o personagem que
você mais gosta de escrever?
É a Dona Morte. Se você pegar as minhas histórias, vai ver
que de alguma forma ela sempre aparece. Eu adoro porque ela foge do clichê. A
dona morte só precisa pegar alguém e isso dá asas para a imaginação. Tem uma
das histórias que eu mais gosto que ela vira criancinha, a Mortinha e ninguém
respeita mais ela. Tem aquela que fiz do Papa, que também teve uma repercussão
bem legal. Aliás, aquela história eu fiz na rodoviária.
Dona Morte, personagem predileta. |
Qual o personagem
mais difícil de escrever?
Então, o roteirista do estúdio MSP tem que saber escrever
todos os personagens, mas o núcleo que eu tenho mais dificuldade é a Turma da Mata,
porque tem aquele lado político, mas ao mesmo tempo não pode ser muito
político. Como eu tendo mais para o humor, quando vou eu alopro, eu faço umas
histórias que brincam bem com esse lado do rei, do reinado. Outro difícil é o
Horácio, que é um personagem do Maurício. A gente tenta de vez em quando, mas é
muito pessoal, difícil conseguir emplacar um roteiro.
De todas as histórias
que você fez, qual você mais gosta?
É complicado. É como filho, difícil dizer qual a gente mais
gosta, mas eu gosto muito dos clássicos do cinema. Eu gosto muito de Coelhada
nas Estrelas, porque sou fã de Star Wars.
Mestre do trocadilho, Flávio adora fazer adaptações de filmes. |
Foi você que criou os
trocadilhos com os filmes, como “O império contra a vaca”?
Sim. O pessoal diz que sou o rei dos trocadilhos. Eu posso
perder o amigo, mas não perco a piada. Teve o Astroboy, que virou Astroboi. Eu
adoro fazer trocadilhos...
Esses trocadilhos já
ficaram famosos. Lá em casa ninguém mais diz O Império Contra-ataca, é
O Império
Contra a Vaca...
Rsrsrs verdade. E tem muita coisa. Por exemplo, Avatar,
virou Avaturma, vem fácil.
Flávio foi o roteirista do casamento mais esperado dos quadrinhos. |
Como é o seu processo
criativo?
Depende. Se o prazo é curto, você fica às vezes meio tenso.
Se você me vê andando para lá e para cá é porque eu estou tenso, eu estou num
processo criativo e ainda não sei para
onde eu vou. Às vezes eu tenho uma ideia e ela vai para três quatro lugares
diferentes e eu tenho que me ater a uma só. Eu sou um cara que gosta de
pesquisar muito sobre o assunto da história. Se vou fazer a história de um filme, vou
pesquisar sobre o filme, se vou fazer a história da pizza, vou pesquisar. Se na
pesquisa vejo a referência a Nápoles, vou pesquisar o que é Napoles, é um link
infinito. No mangá eu tenho um estilo próprio. Eu escrevo a história de forma
corrida em 12 páginas de texto porque os mangás têm que ter 120 páginas. Então
cada página de texto tem que me dar 10 páginas de quadrinhos. Na hora em que
estou passando a limpo é que começo a pensar no layout porque layout de mangá é
diferente e eu começo a pensar: aqui era para dar 10, deu 6, legal, vai dar
para desenvolver um pouco mais outra sequencia...
Como você escreve?
Como se fosse uma peça de teatro. O cebolinha fala, a Monica
fala, etc e a descrição das gags visuais. Na hora de passar a limpo, faço o
layout e vem coisas novas.
Uma coisa
interessante do Maurício é que, apesar do processo ser meio industrial, cada um
tem um estilo e dá para perceber isso nas histórias. A minha filha, que é
especialista em turma da Mônica, diz que o seu forte é o humor.
Isso. Cada um tem uma marca. A turma da Monica Jovem minha,
por exemplo, é bem mais leve. É um humor de fazer gag o tempo todo. Cada
roteirista tem o seu estilo e ele aprece nas histórias. Por exemplo, se você lê
uma história do Mingau, você sabe que é do Paulo Back porque ele tem, tipo, 10
gatos em casa e sabe tudo de gatos. As histórias do Emerson têm um estilo que
você diz: só o Emerson para fazer isso. Ele faz umas coisas bem doidas que só
poderiam sair da cabeça dele.
O que você gosta de
ler, de quadrinhos?
Eu leio de tudo. Leio
super-herói, comecei a ler muita coisa de quadrinho europeu graças ao Sidney Gusman,
que começou a me trazer muita coisa legal.
Eu já percebi nos
seus quadrinhos uma pegada meio Asterix, com muita gag visual.
O Asterix me influenciou muito. Eu adoro os trocadilhos do
Goscinny. Eu li e fiquei pirado. Calvin também. Foram verdadeiras escolas de
roteiro. Aliás, quando comecei, o Maurício falava: tá muito Calvin isso aqui,
dá uma maneirada...rsrsrs
Que dica você daria
par os novos roteiristas?
Você tem que ser muito apaixonado por roteiro e você tem que
ler de tudo, não pode ter preconceito: quadrinho europeu, quadrinho americano,
mangá. Você não pode ficar viciado em uma coisa só. E você tem que se dedicar à
pesquisa. A pesquisa vai transformar muito seu roteiro.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
O roteiro nas histórias em quadrinhos
Gian Danton oferece, neste livro, sua experiência de
mais de duas décadas lidando com as Histórias em Quadrinhos, seja
produzindo roteiros, seja ministrando cursos sobre o assunto.
Nas palavras do autor, em O roteiro nas Histórias em Quadrinhos
“o neófito pode encontrar todas as dicas para se tornar um roteirista
de qualidade. Mas vale lembrar que nenhum livro ou curso, por melhor que
seja, é capaz de realizar milagres. Escrever quadrinhos, ao contrário
do que pensa a maioria das pessoas, exige muito esforço, dedicação e
perseverança. E exige também muita leitura”.
Alguns temas tratados no livro:
Como criar personagens
Como criar a ambientação
Tramas
Diálogos
Texto
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Imaginários quadrinhos - selecionados
A editora Draco anunciou início deste ano que iria investir em antologias de HQs, a série Imaginários Quadrinhos. Pelos outros trabalhos publicados pela Draco, esse álbum tem sido esperado ansiosamente pelos fãs.
Pois a editora anunciou os escolhidos para o primeiro número. São:
1- “Valquíria em O Homem que Veio do Céu”
Arte: Alex Genaro / Roteiro: Alex Mix
2- “ÔCH”
Arte e roteiro: Raphael Salimena
3- “Apagão”
Arte: Camaleão / Roteiro: Raphael Fernandes
4- “Gélidas Memórias”
Arte: MJ Macedo e Geannes Holland / Roteiro: MJ Macedo
5- “O Caso do Monstro do Ártico”
Arte: Marcus Rosado / Roteiro: Zé Wellington
6- “A Revolução Não Será Compartilhada”
Arte: Dalton Dalts / Roteiro: Raphael Fernandes
Mais informações no blog da editora.
Pois a editora anunciou os escolhidos para o primeiro número. São:
1- “Valquíria em O Homem que Veio do Céu”
Arte: Alex Genaro / Roteiro: Alex Mix
2- “ÔCH”
Arte e roteiro: Raphael Salimena
3- “Apagão”
Arte: Camaleão / Roteiro: Raphael Fernandes
4- “Gélidas Memórias”
Arte: MJ Macedo e Geannes Holland / Roteiro: MJ Macedo
5- “O Caso do Monstro do Ártico”
Arte: Marcus Rosado / Roteiro: Zé Wellington
6- “A Revolução Não Será Compartilhada”
Arte: Dalton Dalts / Roteiro: Raphael Fernandes
Mais informações no blog da editora.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Caligari: a história de uma adaptação
O sucesso do filme Caligari fez com que ele fosse adaptado mais de uma vez para outras mídias. A obra já foi citada diversas vezes em gibis e ganhou uma adaptação em quadrinhos em 1992, pela editora Monster Comics, numa minissérie em três partes assinada por Ian Carney e Michael Hoffman. Em 1999, os roteiristas Randy e Jean-Marc Lofficer e o ilustrador Ted Mckeever juntaram elementos de Batman, Super-homem, Metrópolis e Caligari no especial Nosferatu. Quando Tim Burton lançou o segundo filme do Batman, em 1992, o visual do Pinguim era inspirado em Caligari, visual que depois foi aproveitado no desenhado animado dirigido por Bruce Tim.
Curiosamente, embora os quadrinhos de terror sempre tenham feito muito sucesso no Brasil, em nosso país nunca o filme de Wiene havia sido adaptado para a nona arte.
A idéia para isso surgiu em 1998. Nessa época estava sendo lançada a graphic novel Manticore, em duas partes, com roteiro meu, pela editora Monalisa. O sucesso de crítica (a revista ganhou o HQ Mix, o Angelo Agostini de melhor roteirista e o prêmio da Associação Brasileira de Arte Fantástica) fez crer que a revista teria uma continuidade. A idéia, então, era transformar a Manticore numa revista mix de terror e ficção-científica nos moldes da extinta Kripta. Uma das ideias era fazer histórias sobre mitos urbanos, como O bebê diabo e sobre clássicos de terror, como Caligari.
Uma série de decisões editoriais equivocadas fez com que a revista, apesar do sucesso, não tivesse continuidade, mas algumas dessas histórias seriam de fato produzidas. As duas citadas acima foram lançadas em 2008 pela editora HQM no especial Quadrinhofilia, que reúne trabalhos de José Aguiar.
O processo de adaptação começou com uma análise do filme. Eu e o desenhista assistimos ao Gabinete do Dr. Caligari juntos, fazendo anotações. A ideia era captar as principais características da história, afinal, o segredo de uma adaptação não é ser totalmente fiel à trama, mas ser fiel ao espírito da ideia original. Assim, a deformação dos cenários e a maquiagem exagerada foram os elementos mais facilmente percebidos. Como havia uma limitação de seis páginas, a história precisava ser condensada, mas ainda assim fazer sentido e ser fiel.
Uma das questões discutidas foi com relação ao uso de diálogos e legendas. Como o filme é mudo, o caminho mais fácil seria fazer uma HQ muda. Mas cinema e quadrinhos são mídias completamente diferentes e fazer isso seria um erro. Mesmo em seus primórdios, as HQs não eram mudas, pois não havia limitação técnica ao uso da linguagem falada. Assim, decidiu-se que se teria diálogos e legendas (representando a fala de Alan, em off).
O passo seguinte, após a estruturação de um argumento-sinopse, foi a elaboração de um roteiro. O roteiro das duas primeiras páginas é apresentado abaixo, para dar uma ideia dessa fase da adaptação:
Página 1Q1 – Plano detalhe de folhas secas caídas no chão.
Velho (off): Os espíritos... eles estão em todos os lugares...
Q2 – Plano médio. Francis e o velho estão sentados, lado a lado, conversando.
Velho: Nos amedrontam... eles me afastaram de minha mulher e meus filhos.
Q3 – Os dois estão conversando, mas agora Francis olha para o lado, para Jane, que aparece vestida de branca, quase como um espírito.
Velho: Foi assim que aconteceu, meu rapaz...
Q4 – Jane passa pelos dois, sem notá-los. Quadro mudo.
Q5 – Quadro horizontal. Créditos. Francis e o velho em primeiro plano, vistos de costas, enquanto Jane afasta-se, em último plano.
Velho: Conhece a jovem?
Francis: Aquela é minha noiva, Jane.
Q6 – Alan e o velho conversando, em plano médio.
Francis: A pobre jamais se recuperou do que nos aconteceu...
Q7 – Agora um plano fechado dos dois, conversando. Francis, agora em segundo plano, sendo observado, com olhar perdido, pelo velho.
Francis: Também tenho uma história...
Q8 – plano fechado de Francis, em gesto amplo, expressionista.
Francis: ... ainda mais extraordinária do que a sua...
Q9 – Close de Francis. Destaque para seu olhar melancólico, ampliado pela “maquiagem pesada”.
Francis: Tudo começou com a chegada da feira de variedades à nossa cidade.
Página 2 Nesta página teremos um quadro grande, o 4, ocupando boa parte da página, num tom expressionista.
Q1 – Quadro geral da feira, com Caligari aproximando-se do leitor.
Texto: E com a feira
Q2 – A continuação da mesma cena, mas agora Caligari já está mais próximo de nós.
Texto: veio
Q3 – Agora o quadro é tomado por Caligari.
Texto: O doutor Caligari.
Q4 – Chegamos ao quadro de impacto da página. Caligari espera o escrivão. Como combinamos, a mesa do escrivão é extraordinariamente alta e distorcida, simbolizando, como no filme, o monstro da burocracia. Caligari é visto como pequenino diante desse monstro.
Texto: Antes de instalar sua feira, o doutor foi pedir permissão ao escrivão. Ele foi duramente humilhado. Teve que esperar por horas para ser atendido.
O exemplo serve para demonstrar como foi o processo de adaptação nessa fase de estruturação do roteiro. Bom lembrar que tal roteiro foi construído a partir das conversas entre desenhista e escritor, e reflete essa conversa. Posto isso, passemos a analisar o texto.
A fala de Francis, quebrada, nos três primeiros quadros da página 2, revela influência do quadrinho britânico do final dos anos 1980, em especial de autores como Neil Gaiman (Orquídea Negra) e Alan Moore (Monstro do Pântano).
A narrativa, em off, é intencionalmente coerente e racional, como forma de evitar que o leitor perceba que se trata de um conto de um louco, o que já é evidenciado pelo desenho, sendo uma pista de como a trama irá terminar. Assim, o roteiro procurou preservar o final surpresa.
Se o texto parece uma narrativa fantástica contada por um homem racional, o desenho distorce essa narrativa, demonstrando o real estado das coisas.
A segunda página, já descrita no roteiro acima, apresenta o quadro de impacto de Caligari pequeno, numa perspectiva distorcida, diante da enormidade da burocracia.
A página 3 é dominada pela figura esguia de Cesare. A magreza e altura atípica do personagem orientam a leitura, que ganha foco no rosto fantasmagórico do sonâmbulo. Os personagens normais são eclipsados por essa figura distorcida.
A página 4 é centralizada pela figura de Jane, como se os fatos refletissem dela. Ao fitar a página, o leitor tem seu olhar magnetizado pelo olhar assustado de Jane e sua figura, em sépia azul. A tendência do olhar é correr na direção do último quadro, em que Cesare agarra Jane, sequestrando-a.
Esse caos da diagramação reflete o caos interno dos personagens, suas angústias e inquietações, no que poderia ser considerado um equivalente quadrinístico da técnica expressionista.
Avançando, na página 6 temos a prisão de Caligari. Ele se contorce e grita, lutando com os médicos. Vista em oposição à página seguinte, vemos que ela se reflete no quadro 4 da página 7. Ali é o narrador que é preso e repete a mesma posição de Caligari, como se fossem duas faces da mesma moeda: num lado a racionalidade, no outro a loucura. Como o lado racional é na verdade uma narrativa distorcida, uma falsa racionalidade, esse contraste cria uma inquietação no leitor que nos lembra o conceito de obra aberta, de Umberto Eco, que pretende renovar nossa percepção e nosso modo de compreender as coisas.
Na página 7 há um diálogo, não existente no filme, que pretende destacar exatamente a crítica ideológica do filme, pensada originalmente pelos roteiristas (Janowitz e Carl Mayer). Alan pula sobre Caligari e grita: “Tolos! Não percebem? Ele planeja nosso destino!”.
A fala é uma referência direta à interpretação de Kracauer, segundo o qual Caligari antecipa Hitler e o nazismo. Assim, se por um lado respeitamos a moldura introduzida por Fritz Lang, por outro destacamos a crítica social e política imaginada pelos roteiristas.
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Oficina de roteiro com Gian Danton
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
O texto nos quadrinhos
Há dois aspectos que se deve considerar ao escrever o texto numa história em quadrinhos. E, quando falo de texto, vale tanto para legendas quanto para diálogos.
O primeiro deles é que quadrinho não é literatura. O texto quadrinístico só existe em íntima coesão com a imagem. O roteirista deve pensar visualmente, imaginar como seu texto vai interagir com os desenhos e que tipo de impressão essa junção vai causar.
O segundo aspecto é que o roteirista deve saber quem são os personagens. O ideal é que até mesmo os personagens secundários tenham uma história. Quem são eles? Quais são suas motivações, quais são os seus medos, quais são suas esperanças? Há alguma história de vida que podemos contar sobre esse personagem e que ajudem a mostrar ao leitor quem é essa pessoa?
Essas duas preocupações sempre dominaram minha produção de roteiros. Exemplo disso é a história O farol, publicada pela editora Nova Sampa e, posteriormente, na editora norte-americana Phantagraphics, com o nome de Beach Baby.
Na história um casal está na praia quando vê surgir um farol. Eles entram no local para investigar e acabam se perdendo um do outro. A sequência que apresento abaixo mostra o momento em que o rapaz se perde da namorada, e se vê em local totalmente escuro, sendo dominado pelo medo.
Eu e Joe Bennett trabalhávamos com o marvel way, um método que só funciona se o desenhista for um narrador nato, como é o caso do compadre. Nós discutíamos a história, ele ia para casa, fazia um rafe das páginas e me trazia. Era sempre um desafio escrever o texto, pois ele conseguia contar tudo só com imagens. Isso exigia o máximo do roteirista.
No caso dessa página, o que escrever? O desenho já explicava facilmente a situação: o rapaz estava perdido e entrando em desespero.
Não fazia sentido colocar o rapaz falando sozinho. Embora esse seja um recurso usando em algumas HQs, a verdade é que só malucos falam sozinhos.
Assim, preferi trabalhar os pensamentos do personagem, mas explicitados por um narrador em terceira pessoa, para conseguir o efeito desejado.
Reparem que o texto começa contando um detalhe sobre o personagem, uma pequena história da vida dele, mas segue num crescendo até a conclusão final. O texto do último parágrafo encaixa perfeitamente com a expressão do personagem, conseguindo um efeito tanto de impacto quanto de ironia.
Reproduzo abaixo o texto:
“Fábio”
“Fábio”
“Fábio”
Ele repete o nome para si milhares de vezes.
Uma vez ele conheceu um ocultista, um homem de óculos grosso e estante cheia de livros.
O homem disse que o nome de cada pessoa é um mantra para si mesmo.
Palavras sagradas que, repetidas várias vezes, trazem calma e paz de espírito.
Com Fábio isso não deu muito certo.
O primeiro deles é que quadrinho não é literatura. O texto quadrinístico só existe em íntima coesão com a imagem. O roteirista deve pensar visualmente, imaginar como seu texto vai interagir com os desenhos e que tipo de impressão essa junção vai causar.
O segundo aspecto é que o roteirista deve saber quem são os personagens. O ideal é que até mesmo os personagens secundários tenham uma história. Quem são eles? Quais são suas motivações, quais são os seus medos, quais são suas esperanças? Há alguma história de vida que podemos contar sobre esse personagem e que ajudem a mostrar ao leitor quem é essa pessoa?
Essas duas preocupações sempre dominaram minha produção de roteiros. Exemplo disso é a história O farol, publicada pela editora Nova Sampa e, posteriormente, na editora norte-americana Phantagraphics, com o nome de Beach Baby.
Na história um casal está na praia quando vê surgir um farol. Eles entram no local para investigar e acabam se perdendo um do outro. A sequência que apresento abaixo mostra o momento em que o rapaz se perde da namorada, e se vê em local totalmente escuro, sendo dominado pelo medo.
Eu e Joe Bennett trabalhávamos com o marvel way, um método que só funciona se o desenhista for um narrador nato, como é o caso do compadre. Nós discutíamos a história, ele ia para casa, fazia um rafe das páginas e me trazia. Era sempre um desafio escrever o texto, pois ele conseguia contar tudo só com imagens. Isso exigia o máximo do roteirista.
No caso dessa página, o que escrever? O desenho já explicava facilmente a situação: o rapaz estava perdido e entrando em desespero.
Não fazia sentido colocar o rapaz falando sozinho. Embora esse seja um recurso usando em algumas HQs, a verdade é que só malucos falam sozinhos.
Assim, preferi trabalhar os pensamentos do personagem, mas explicitados por um narrador em terceira pessoa, para conseguir o efeito desejado.
Reparem que o texto começa contando um detalhe sobre o personagem, uma pequena história da vida dele, mas segue num crescendo até a conclusão final. O texto do último parágrafo encaixa perfeitamente com a expressão do personagem, conseguindo um efeito tanto de impacto quanto de ironia.
Reproduzo abaixo o texto:
“Fábio”
“Fábio”
“Fábio”
Ele repete o nome para si milhares de vezes.
Uma vez ele conheceu um ocultista, um homem de óculos grosso e estante cheia de livros.
O homem disse que o nome de cada pessoa é um mantra para si mesmo.
Palavras sagradas que, repetidas várias vezes, trazem calma e paz de espírito.
Com Fábio isso não deu muito certo.
War – histórias de guerra
Quando fui convidado por Franco de Rosa para reescrever as histórias do volume War – histórias de guerra (com histórias escritas por Luís Merí e publicadas na década de 1960) imaginei que estaria cometendo uma espécie de sacrilégio. Afinal, sempre fui fã de Colonesse e apreciava seus desenhos até nos livros didáticos. Tenho até hoje um livro de filosofia da FTD que, apesar do conteúdo fraco, foi guardado apenas por causa das ilustrações do mestre. Algumas semanas depois, quando o pacote com as histórias finalmente chegou à distante Macapá, pude ler as histórias e perceber que, de fato, elas não funcionavam para o leitor atual. Algumas tinham problemas estruturais, de com tradições internas, mas a maioria simplesmente apresentava uma narrativa datada, típica de uma época em que desenho e texto eram redundantes.
Nesse período, minha mulher viajou com meus filhos e isso me permitiu algumas extravagâncias. Entre elas, escrever à noite (ao contrário de 99% dos escritores, eu não sou notívago).
Lá estava eu, com um monte de histórias prontas, que eu não havia escrito me perguntando o que poderia fazer. Decidir começar pelas mais difíceis, ou seja, pelas que apresentavam mais problemas, o que me deixaria mais à vontade para mexer nas outras. “Paredão” e “Granja” se encaixavam nesse perfil.
Alan Moore diz que o escritor deve “entrar” no personagem e no clima da história para conseguir repassar algo ao leitor. Como posso querer que meu leitor sinta medo se eu não sinto medo enquanto escrevo? Como querer que o leitor sinta o mesmo que o personagem se eu não sinto? Assim, cada vez que escrevo uma história, me vejo sendo possuído por seus personagens.
Para escrever “A Granja” eu me imaginei como uma mulher vivendo em plena guerra que viu seus pais serem assassinados. Tive pesadelos com isso, com as explosões, a guerra e a crueldade nazista.
A experiência me mostrou algo que hoje considero óbvio: a protagonista Anita havia enlouquecido, embora o texto original não fizesse nenhuma menção a isso. Para demonstrar essa loucura, usei no texto a sinestesia, uma figura de linguagem em que os sentidos se misturam: cheirar cores, ouvir cheiros, etc.
Eu havia decidido que “Paredão” seria uma história romântica. Imaginei a protagonista, já velhinha, contando para alguém a história do amor de sua vida.
Para entrar no clima, peguei todos os CDs românticos que tinha em casa e os ouvi enquanto lia, preparava aulas, corrigia trabalhos ou produzia o texto para a história. Uma música de Roberto Carlos particularmente me chamou atenção: “A estação”. A música era narrada em tempo real e falava de um homem cujo amor de sua vida vai partir em um trem. A indecisão da mulher e a tristeza do homem eram mostrados com perfeição: “Para não me ver mais triste ainda ela sorriu, me olhou nos olhos, me beijou, depois saiu. Caminhou com passos calmos e parou. Me acenou mais uma vez, depois seguiu”. Era esse clima de separação que eu pretendia passar na história. Eu estava curioso para saber qual seria a reação à minha visão romântica da guerra e ainda estou.
Essas duas HQs me deram o parâmetro que eu deveria seguir nas outras e são minhas prediletas.
Nota: Essas histórias reescritas por mim e desenhadas pelo Colonnese foram publicadas no álbum War – histórias de guerra, da editora Opera Graphica em 2003. Foi uma edição de colecionador, numerada e autografada pelo desenhista exemplar a exemplar. O álbum inclui também uma história inédita, escrita por mim e desenhada pelo Colonnese sobre a guerra do Iraque chamada “O gato e o rato”. Um lindo trabalho a lápis que mostrou aquilo que os fãs do desenhista já sabiam: ele só melhorara com os anos.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Pequenas obras-primas
Dia desses ouvi de uma pessoa que quer fazer quadrinhos que é impossível fazer uma boa HQ com menos de 12 páginas. Na hora eu me lembrei de uma frase do editor Franco de Rosa. Na época existiam revistas mix, como a Calafrio, que publicavam histórias curtas. Eu reclamei com o Franco que era difícil fazer uma boa história em 6 páginas. Ele me respondeu: Will Eisner fazia obras-primas com 6 páginas.
É verdade. As histórias do Spirit tinham 6 páginas e eram todas geniais, tanto em termos de roteiro quanto de desenho. Eram HQs tão boas que mudaram a cara dos quadrinhos, mostrando até onde podia ir a linguagem.
Não é o único exemplo. A EC Comics, na década de 1950 fazia histórias de terror e ficção-científica com 7 ou 8 páginas e o nível era altíssimo. Era uma das melhores coisas feitas na época.
Na década de 1970 um dos maiores sucessos no Brasil era a revista Kripta, que reunia histórias curtas de terror, fantasia e FC, todas com menos de 10 páginas. O nível alcançado por essa revista raramente foi ultrapassado. Os roteiristas conseguiam em 7 ou 8 páginas fazer histórias complexas, personagens com profundidade psicológica e textos poéticos.
São só alguns exemplos. Mesmo no caso de histórias seriadas há muitas que tinham capítulos curtos auto-contidos. Miracleman, por exemplo, era pulicada na forma de capítulos auto-contidos. Se você lesse um capítulo, entendia.
Na minha época ninguém se transformava em quadrinista sem aprender a arte da síntese.
Hoje, toda uma geração está crescendo lendo mangás que nunca acabam ou mega-sagas da Marvel e da DC em que o roteirista leva 600 páginas para contar uma história que um roteirista realmente bom, como Alan Moore, contaria em 20 páginas.
Está surgindo uma geração de quadrinistas que perdeu a capacidade da síntese. Lamentável.
É verdade. As histórias do Spirit tinham 6 páginas e eram todas geniais, tanto em termos de roteiro quanto de desenho. Eram HQs tão boas que mudaram a cara dos quadrinhos, mostrando até onde podia ir a linguagem.
Não é o único exemplo. A EC Comics, na década de 1950 fazia histórias de terror e ficção-científica com 7 ou 8 páginas e o nível era altíssimo. Era uma das melhores coisas feitas na época.
Na década de 1970 um dos maiores sucessos no Brasil era a revista Kripta, que reunia histórias curtas de terror, fantasia e FC, todas com menos de 10 páginas. O nível alcançado por essa revista raramente foi ultrapassado. Os roteiristas conseguiam em 7 ou 8 páginas fazer histórias complexas, personagens com profundidade psicológica e textos poéticos.
São só alguns exemplos. Mesmo no caso de histórias seriadas há muitas que tinham capítulos curtos auto-contidos. Miracleman, por exemplo, era pulicada na forma de capítulos auto-contidos. Se você lesse um capítulo, entendia.
Na minha época ninguém se transformava em quadrinista sem aprender a arte da síntese.
Hoje, toda uma geração está crescendo lendo mangás que nunca acabam ou mega-sagas da Marvel e da DC em que o roteirista leva 600 páginas para contar uma história que um roteirista realmente bom, como Alan Moore, contaria em 20 páginas.
Está surgindo uma geração de quadrinistas que perdeu a capacidade da síntese. Lamentável.
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