sábado, 20 de novembro de 2021
segunda-feira, 9 de agosto de 2021
Confira o processo de produção da primeira história do Cabano
Cabano é um personagem surgido no meu livro Cabanagem. Este ano, o herói ganhou sua versão em quadrinhos desenhado pelo grande Juliano Kaapora e publicado na revista Mestres do Terror (pedidos podem ser feitos pelo e-mail revistacalafrio@gmail.com). Na primeira história ele enfrenta a Cobra Grande. Em histórias futuras ele encontrará com diversos outros seres da floresta, entre eles o Curupira, a Matinta, o Mapinguari, entre outros.
Confira abaixo como foi o processo de produção de uma página da HQ.
O roteiro
O roteiro descreve as cenas para o desenhista e apresenta os diálogos e textos. É o primeiro passo da produção de uma história em quadrinhos. Aqui pegamos o roteiro da página 4.
Página 4
Q1 – O cabano fugindo, mas vemos ao fundo duas luzes, como se fossem dois faróis, mas são os olhos da cobra grande.
Texto: Seus pés tocam rápido a terra escavada há milênios enquanto o pesadelo vivo o persegue implacavelmente.
Texto: Embora não o veja, o cabano sabe que ele está ali, aproximando-se rapidamente.
Q2 – O cabano atirando. Minha ideia é mostrar ele de frente, como se o leitor estivesse na frente dele.
Texto: Ele se vira e atira.
Q3 – O cabano correndo pelos túneis.
Texto: Ele sabe que o tiro não irá matar a criatura. Talvez ela nem mesmo possa ser morta. Talvez seja mais velha que o tempo. Mas talvez lhe dê alguns segundos preciosos.
Q4 – O cabano fugindo e, na frente dele uma luz, como se fosse uma saída do túnel para o ar livre.
Texto: Luz. Há uma saída. Ele apressa o passo, o ar queimando em seus pulmões, rezando para que ainda haja tempo. Ele pode ouvir o arrastar demoníaco da serpente cada vez mais próximo.
O rafe
O rafe é um esboço do desenho. Serve como guia para a produção da história. Nesse caso, o rafe foi enviado para mim e eu e o desenhista discutimos mudanças.
A página finalizada
Aqui temos a página já com arte-final. Observe que o rafe foi seguido, exceto no terceiro quadro. A ideia de fazer a cobra se enrolando no quadro e vermos o Cabano através dela deu mais dinamismo e grandiosidade para a cena.
domingo, 30 de maio de 2021
Omac – o exército de um homem só
Em 1974, Jack Kirby estava
na DC Comics e tinha assinado um contrato que o obrigava a fazer 15 páginas de
quadrinhos, escritas, desenhadas e editadas por semana. Um número absolutamente
bizarro se considerarmos que a maioria dos desenhistas de quadrinhos faz 22
páginas por mês.
Mas outras revistas que ele
estava fazendo, como Etrigan, o demônio, tinham sido descontinuadas em
decorrência das baixas vendas. O único personagem que vendia relativamente bem
era Kamandi, que se passava num futuro distópico. Assim, os executivos da DC
pediram que Kirby pensasse num herói futurista para completar a cota de 15
páginas semanais.
O resultado foi, provavelmente,
o melhor trabalho de Kirby para a DC e, provavelmente, um dos melhores
quadrinhos já feitos pelo rei.
O quadrinho chamava-se Omac
e se passava num futuro distópico. Omac é um operativo de paz que combate
ditadores e criminosos.
As situações imaginadas por
Kirby mostram o quanto ele era visionário e absolutamente criativo.
O mundo de Omac é um local
em que ricos podem conseguir tudo, de alugar uma cidade para dar uma festa (e
durante a festa tudo que está dentro da cidade pode ser usado por eles) a
comprar corpos jovens para transferir suas consciências.
A primeira história é
incrivelmente visionária. Kirby imaginou uma empresa que fabrica “amigas”,
bonecas hiper-realistas para consolar pessoas sozinhas (em outras palavras:
bonecas sexuais). A situação gira em torno de pessoas dessa empresa que colocam
bombas nessas bonecas afim de cometer assassinatos. Hoje em dia bonecas
hiper-realistas são uma realidade e podem ser compradas em sites por valores
que variam de 2 a 5 mil reais! As mais avançadas já contam até mesmo com
inteligência artificial. Se considerarmos que Kirby fez essa história em meados
da década de 70, é incrível o quanto ele conseguia antecipar o futuro.
Kirby imagina a importância
que a água teria no futuro e inventa um vilão que manipula átomos para roubar
rios e lagos inteiros.
E, quem diria, Kirby, que
lutou na segunda Guerra Mundial, é implacável com figuras de autoridades, em
especial as militares. Um dos personagens, assistente de um vilão, é o Major
Capacho.
Omac é, provavelmente, o
melhor exemplo da mente genial e visionária de Jack Kirby, o homem, que, nas
palavras de Alan Moore, era capaz de criar um universo antes do café da manhã.
Pena que a capacidade de
Kirby com a escrita não acompanhasse toda essa genialidade. Os diálogos são tão
impessoais e sem sabor que muitas vezes um personagem completa a fala do outro.
Mas a genialidade das histórias aqui é tão grande que esse defeito passa quase
batido.
É surpreendente que esse
material estivesse inédito no Brasil até este ano de 2021, quando a Panini
publicou as histórias num volume de Lendas do Universo DC.