Jornal da BD foi uma
publicação semanal portuguesa surgida em 1980 e publicada até 1987, perfazendo
um impressionante total de 264 edições (com tiragem de 50 mil exemplares!). Em
tempo: o nome se refere à forma como os quadrinhos são chamados em Portugal:
Banda Desenhada, portanto, BD.
É uma publicação no
estilo europeu, com várias séries publicadas em capítulos de seis ou sete páginas
– na França e na Bélgica é comum depois de publicados os capítulos, unir tudo
em um álbum. No caso do Jornal da BD, em alguns números eles apresentavam também
uma história completa.
A relação de séries
publicadas reúne o melhor do quadrinho franco-belga: Asterix, Blueberry, Valerian,
Lucky Luke, Iznogoud (só para citar os mais conhecidos no Brasil).
Eu consegui comprar em
um sebo de Curitiba um lote que vai do 17 ao 32 e é um dos itens mais queridos
da minha coleção.
Curiosamente, as séries
que eu mais gostava eram as menos conhecidas aqui: Cori, o grumete, de Bob de
Moor, e O filho do Barba Ruiva, de Charlier (roteiro) e Hubinon (desenhos).
Cori, o Grumete se
passa na época da expansão marítica dos países europeus e da guerra entre
Inglaterra e Espanha (spoiller: embora tivesse a maior armada, a Espanha foi
derrota, o que transformou a Inglaterra na maior pontência naval da época). Trabalhando
em um barco holandês, Coris se vê envolvido nos principais acontecimentos do
período, chegando a ser até mesmo espião da rainha da Inglaterra.
O filho do Barba Ruiva
é uma série sobre piratas, tendo como protagonista o filho adotivo de um dos
maiores corsários de todos os tempos.
Tanto uma série como
outra são exemplos perfeitos do quadrinho franco-belga de aventura e o Jornal
da BD permite entender como eles foram inicialmente concebidos. Cada página
funciona como um pequeno capítulo que termina em uma situação de supense que só
irá se resolver na página seguinte, que, por sua vez, trará, ao final, outro
suspense. Isso que permitia o sucesso dessas publicações semanais: os leitores
ficavam viciados na narrativa, curiosos para saber o que aconteceria a seguir
e, assim, compravam toda semana.
Tanto Bob de Moor
quanto Charlier sabiam fazer isso com maestria e, além disso, desenvolver
perfeitamente os personagens, com protagonistas e secundários extremamente
carismáticos.
Veja abaixo algumas páginas.
Na segunda página da história, os personagens são melhor desenvolvidos (percebemos, por exemplo, que Três Pernas é um estrategista). Ao final, mais uma situação de suspense. Muitos acreditam que suspense é colocar o personagem em perigo, o que não é verdade. Suspense significa deixar o leitor curioso para saber o que ocorrerá em seguida. Quando Eric se apresenta no castelo, um serviçal se desespera achando que viu um fantasma. Esse mistério deixa o leitor curioso para continuar lendo a história e entender o que realmente está acontecendo. Repare que a história é montada de tal forma que a situação de suspense fica para o último quadro. Se a história continua na mesma edição, basta virar a página. Se é o fim do capítulo, o leitor irá comprar na próxima semana para saber o que ocorrerá a seguir.
Essa é uma página do meio da história Os espiões da rainha, da série Cori, o grumete. O espião mirim foi descoberto pelo chefe de um bando de vagabundos e corre perigo. Quando o "general" vai bater no rapaz, surge uma voz misteriosa, ameaçando-o. Quem será o salvador do rapaz? Isso o leitor só descobrirá na próxima página (ou na próxima semana, se for final de capítulo).
Nesta página descobrimos que o salvador de Cori é Harm, um personagem que ele acreditava morto. Cori está a salvo. Mas o que acontecerá com Harm? Só na próxima página ou próxima semana!